18º Passeio do MP Lafer - Águas de Lindóia 2014

Águas de Lindóia, no extremo leste do circuito das águas de São Paulo, tem vocação para o turismo e para receber eventos de carros antigos. Faltava um encontro do MP Lafer lá. Não falta mais. Meu nome é Jean Tosetto e tentarei contar a história de mais um passeio do Clube MP Lafer Brasil.
Águas de Lindóia, no extremo leste do circuito das águas de São Paulo, tem vocação para o turismo e para receber eventos de carros antigos. Faltava um encontro do MP Lafer lá. Não falta mais. Meu nome é Jean Tosetto e tentarei contar a história de mais um passeio do Clube MP Lafer Brasil.

14.699 km


Dia 26 de abril de 2014. São quase 7:00 horas da manhã. Dou um beijo em minha esposa e vou para a garagem. Na frente do meu carro faço uma oração para que tudo ocorra bem na jornada que se inicia. Minha filha, de apenas dez meses, ainda estava dormindo. Vi seu rosto angelical no berço, torcendo para que não fosse pela última vez. A Renata me pediu para ir com cuidado - nem precisava: depois que me tornei pai fiquei um segundo mais lento por volta. Fosse eu um piloto profissional, estaria me aposentando.
Dia 26 de abril de 2014. São quase 7:00 horas da manhã. Dou um beijo em minha esposa e vou para a garagem. Na frente do meu carro faço uma oração para que tudo ocorra bem na jornada que se inicia. Minha filha, de apenas dez meses, ainda estava dormindo. Vi seu rosto angelical no berço, torcendo para que não fosse pela última vez. A Renata me pediu para ir com cuidado - nem precisava: depois que me tornei pai fiquei um segundo mais lento por volta. Fosse eu um piloto profissional, estaria me aposentando.

A primeira perna do passeio, pelo menos para mim, estava vencida. Percorri 115 km desde Paulínia até o posto de combustíveis do km 28 da Rodovia dos Bandeirantes, na Grande São Paulo. Liguei para a Renata para deixá-la tranquila. Tem gente que vai até o ponto de partida só para ver essa primeira reunião de MPs, e volta para casa. Não era o meu caso.
A primeira perna do passeio, pelo menos para mim, estava vencida. Percorri 115 km desde Paulínia até o posto de combustíveis do km 28 da Rodovia dos Bandeirantes, na Grande São Paulo. Liguei para a Renata para deixá-la tranquila. Tem gente que vai até o ponto de partida só para ver essa primeira reunião de MPs, e volta para casa. Não era o meu caso.

Pontualmente às 10:00 horas da manhã os motores são acionados. Ainda tem gente abastecendo o carro e calibrando os pneus. As meninas do posto acenam para mim e me fotografam. Faço o mesmo com elas. Hoje em dia todos se fotografam. Que bom que, ao menos nesta ocasião, possamos fazer isso com um sorriso estampado no rosto. Com o tanque cheio de gasolina e a energia positiva tomando conta do ambiente, vamos para a estrada.
Pontualmente às 10:00 horas da manhã os motores são acionados. Ainda tem gente abastecendo o carro e calibrando os pneus. As meninas do posto acenam para mim e me fotografam. Faço o mesmo com elas. Hoje em dia todos se fotografam. Que bom que, ao menos nesta ocasião, possamos fazer isso com um sorriso estampado no rosto. Com o tanque cheio de gasolina e a energia positiva tomando conta do ambiente, vamos para a estrada.

14.814 km

Já não sei quantas vezes girei meu tronco no carro para tirar fotografias parecidas com esta. É muito legal ver as baratinhas se espalhando nas praças de pedágio (que paguei oito vezes nessa data) parecendo um exército atacando em várias frentes. Uma cruzada do bem.
Já não sei quantas vezes girei meu tronco no carro para tirar fotografias parecidas com esta. É muito legal ver as baratinhas se espalhando nas praças de pedágio (que paguei oito vezes nessa data) parecendo um exército atacando em várias frentes. Uma cruzada do bem.

Essa imagem também já é emblemática: a fila de MPs passando sob o complexo do Serra Azul, que cruza a estrada dupla feito um viaduto para pedestres, repleto de lojas.
Essa imagem também já é emblemática: a fila de MPs passando sob o complexo do Serra Azul, que cruza a estrada dupla feito um viaduto para pedestres, repleto de lojas.

Parei no acostamento para recarregar a máquina fotográfica e aproveitei para captar algumas imagens dos carros passando de frente. Escolhi esta para o relato, pois ela expressa o sentimento de liberdade, facilmente relacionado com o fato de guiar um conversível.
Parei no acostamento para recarregar a máquina fotográfica e aproveitei para captar algumas imagens dos carros passando de frente. Escolhi esta para o relato, pois ela expressa o sentimento de liberdade, facilmente relacionado com o fato de guiar um conversível.

Senti que meu carro estava vendendo saúde e, por conhecer bem o caminho, acabei me desgarrando do comboio, a ponto de cogitar que o restante do grupo se perdeu em algum lugar. Resolvi pegar um atalho para evitar o centro urbano de Lindóia, e para curtir também a linda estradinha vicinal, repleta de curvas e mudanças bruscas de altitude.
Senti que meu carro estava vendendo saúde e, por conhecer bem o caminho, acabei me desgarrando do comboio, a ponto de cogitar que o restante do grupo se perdeu em algum lugar. Resolvi pegar um atalho para evitar o centro urbano de Lindóia, e para curtir também a linda estradinha vicinal, repleta de curvas e mudanças bruscas de altitude.

14.996 km

Daqueles que largaram da Grande São Paulo, fui o primeiro a chegar na linda praça arborizada de Águas de Lindóia. Telefonei de novo para a minha esposa. Estava tudo bem. Ainda tive tempo de me posicionar num ponto interessante para registrar a chegada dos demais carros no recinto.
Daqueles que largaram da Grande São Paulo, fui o primeiro a chegar na linda praça arborizada de Águas de Lindóia. Telefonei de novo para a minha esposa. Estava tudo bem. Ainda tive tempo de me posicionar num ponto interessante para registrar a chegada dos demais carros no recinto.

Gosto bastante de imagens panorâmicas, pois elas dão a real dimensão da quantidade de MPs que participam de um passeio anual. Havia outro tanto de carros atrás desta elevação. Ao todo 58 conversíveis foram reunidos no alto da Serra da Mantiqueira. Acredito que não teremos mais encontros com uma centena de unidades, pois elas estão se diluindo por demais estados do Brasil.
Gosto bastante de imagens panorâmicas, pois elas dão a real dimensão da quantidade de MPs que participam de um passeio anual. Havia outro tanto de carros atrás desta elevação. Ao todo 58 conversíveis foram reunidos no alto da Serra da Mantiqueira. Acredito que não teremos mais encontros com uma centena de unidades, pois elas estão se diluindo por demais estados do Brasil.

Mais uma profissão para o meu currículo: arquiteto, escritor e agora também caixeiro viajante. Levei alguns exemplares do livro do MP Lafer numa caixa de madeira e expus eles junto com a Revista MotorMachine, na primeira mesa do restaurante do Hotel Monte Real. Só pedi autorização para o maître depois de montar o circo. Ele, educadíssimo, não se importou. Um garçom me ofereceu, inclusive, um cappuccino de cortesia. Talvez ele soubesse que eu sempre falo bem daquele delicioso cappuccino, que reporto como o melhor da América do Sul.
Mais uma profissão para o meu currículo: arquiteto, escritor e agora também caixeiro viajante. Levei alguns exemplares do livro do MP Lafer numa caixa de madeira e expus eles junto com a Revista MotorMachine, na primeira mesa do restaurante do Hotel Monte Real. Só pedi autorização para o maître depois de montar o circo. Ele, educadíssimo, não se importou. Um garçom me ofereceu, inclusive, um cappuccino de cortesia. Talvez ele soubesse que eu sempre falo bem daquele delicioso cappuccino, que reporto como o melhor da América do Sul.

Tive a honra de conhecer pessoalmente o Fernando Miranda. Ele é presidente do Clube de Automóveis Antigos de Pernambuco e tomou um avião de Recife só para acompanhar o passeio do MP Lafer, emprestando o carro comum do filho, que ganhou um livro de presente.
Tive a honra de conhecer pessoalmente o Fernando Miranda. Ele é presidente do Clube de Automóveis Antigos de Pernambuco e tomou um avião de Recife só para acompanhar o passeio do MP Lafer, emprestando o carro comum do filho, que ganhou um livro de presente.

Depois do almoço fui caminhar pelo lado oposto da praça, procurando ângulos diferentes para fotografar os carros na beira da lagoa artificial. Tudo é muito rápido num evento como este. Era preciso que ele durasse uns dois ou três dias para que pudéssemos percorrer com calma os espaços entre os MPs - o que por sí só resultaria num belo ensaio.
Depois do almoço fui caminhar pelo lado oposto da praça, procurando ângulos diferentes para fotografar os carros na beira da lagoa artificial. Tudo é muito rápido num evento como este. Era preciso que ele durasse uns dois ou três dias para que pudéssemos percorrer com calma os espaços entre os MPs - o que por sí só resultaria num belo ensaio.

Na pequena concha acústica da praça, a decoração da Páscoa ainda se fazia presente para enfeitar a tradicional confraternização do Clube do MP Lafer, com o sorteio de alguns brindes.
Na pequena concha acústica da praça, a decoração da Páscoa ainda se fazia presente para enfeitar a tradicional confraternização do Clube do MP Lafer, com o sorteio de alguns brindes.

A Vera Monteiro mora em Águas de Lindóia e tem dois carros: o branco é um MP Lafer original, que ela comprou depois de descobrir que seu carro cor de vinho era uma réplica denominada Spaic. Ela possui também um lote na zona rural da cidade, no alto de um morro, e me pediu a opinião de arquiteto sobre um possível investimento. Concordei em ir até o local e fui guiando a réplica do MP, e posso garantir: é um carro muito diferente para dirigir - mas isso será assunto para outra oportunidade.
A Vera Monteiro mora em Águas de Lindóia e tem dois carros: o branco é um MP Lafer original, que ela comprou depois de descobrir que seu carro cor de vinho era uma réplica denominada Spaic. Ela possui também um lote na zona rural da cidade, no alto de um morro, e me pediu a opinião de arquiteto sobre um possível investimento. Concordei em ir até o local e fui guiando a réplica do MP, e posso garantir: é um carro muito diferente para dirigir - mas isso será assunto para outra oportunidade.

Sei que é complicado misturar assuntos profissionais com diversão, mas esta cena eu tinha obrigação de compartilhar com  todos: a linda paisagem do entardecer no interior paulista, no alto da serra. Vera, se você queria um incentivo para construir, aqui está ele.
Sei que é complicado misturar assuntos profissionais com diversão, mas esta cena eu tinha obrigação de compartilhar com  todos: a linda paisagem do entardecer no interior paulista, no alto da serra. Vera, se você queria um incentivo para construir, aqui está ele. 

No retorno para casa, não quis repetir o trajeto da ida, e desci pelo miolo do circuito das águas. Quando cheguei em Serra Negra o celular tocou: era a Renata. Disse para ela não se preocupar, pois em breve estaria de volta.
No retorno para casa, não quis repetir o trajeto da ida, e desci pelo miolo do circuito das águas. Quando cheguei em Serra Negra o celular tocou: era a Renata. Disse para ela não se preocupar, pois em breve estaria de volta.

Em regiões serranas a noite não cai: desaba. Como estão reformando a estrada que corta o circuito, me deparei com a sinalização precária da pista, com degraus de recapeamento de asfalto em várias ocasiões, e diversos motoristas do lado oposto com faróis altos. Apesar da tensão e da necessidade extrema de me concentrar no voltante, me senti muito bem dirigindo naquelas condições, mesmo que adversas. Meu MP dava sinais de que eu podeira seguir por 24 horas seguidas, parando apenas para abastecer. Confiança é tudo.
Em regiões serranas a noite não cai: desaba. Como estão reformando a estrada que corta o circuito, me deparei com a sinalização precária da pista, com degraus de recapeamento de asfalto em várias ocasiões, e diversos motoristas do lado oposto com faróis altos. Apesar da tensão e da necessidade extrema de me concentrar no voltante, me senti muito bem dirigindo naquelas condições, mesmo que adversas. Meu MP dava sinais de que eu podeira seguir por 24 horas seguidas, parando apenas para abastecer. Confiança é tudo.

Finalmente cheguei na esquina da minha rua. Pude ver que a luz da garagem estava acesa. Apertei o botão para abrir o portão basculante e vi minha esposa, segurando minha filha no colo, me esperando. Como é bom chegar em casa e saber que estão esperando por você. Obrigado, Pai do Céu.
Finalmente cheguei na esquina da minha rua. Pude ver que a luz da garagem estava acesa. Apertei o botão para abrir o portão basculante e vi minha esposa, segurando minha filha no colo, me esperando. Como é bom chegar em casa e saber que estão esperando por você. Obrigado, Pai do Céu.

15.107 km

Quase oito horas da noite. A última conferida no odômetro, que já zerei duas vezes, me dizia que treze horas depois de sair de casa eu havia percorrido 408 quilômetros. Nada mau para um carro que já conta com 40 anos de fabricação. Um MP Lafer incrível, que só falta falar.
Quase oito horas da noite. A última conferida no odômetro, que já zerei duas vezes, me dizia que treze horas depois de sair de casa eu havia percorrido 408 quilômetros. Nada mau para um carro que já conta com 40 anos de fabricação. Um MP Lafer incrível, que só falta falar.

Quando desci do carro a Carol, minha princesa, me reconheceu, apesar da barba apontando na face avermelhada de sol e bronzeada de óleo queimado. Os óculos escuros me deixaram com uma máscara branca emoldurando os olhos esbugalhados. Mesmo assim a Carol sorriu para mim. Naquele instante fui o cara mais feliz do mundo.
Quando desci do carro a Carol, minha princesa, me reconheceu, apesar da barba apontando na face avermelhada de sol e bronzeada de óleo queimado. Os óculos escuros me deixaram com uma máscara branca emoldurando os olhos esbugalhados. Mesmo assim a Carol sorriu para mim. Naquele instante fui o cara mais feliz do mundo.


Veja também:

Galeria 2014: Agérico

Raro MP Lafer 1984 no Brasil, ano em que a maioria da produção foi exportada.
Raro MP Lafer 1984 no Brasil, ano em que a maioria da produção foi exportada.

BELEZA PLÁSTICA E CONVINCENTE

O Agérico vive em Recife e faz parte do CAAPE - Clube de Automóveis Antigos de Pernambuco. Ele mesmo é dono de uma simpática e charmosa frota denominada "Jeepster Car Colection" que tem um site digno de visita e de onde pinçamos duas imagens de seus xodós inusitados, como ele mesmo nos relata em 23 de abril de 2014:

"Caro Jean Tosetto,

Observando o YouTube meu filho descobriu a  montagem e desmontagem de uma MP Lafer, que por um feliz acaso, hoje está comigo. Por gentileza satisfaça minha curiosidade, foi você quem recuperou esta Lafer? Comprei a mesma por intermédio do grande João Siciliano.

Na verdade eu nunca quis uma Lafer. Tenho outros carros antigos, mas nunca interessei-me por uma Lafer, até que um dia "Antonio Sim Senhor" veio oferecer-me uma em minha loja. Falei que não queria, que não gostava de carros de plástico - pejorativamente - e ele insistiu muito que eu desse uma volta no carro. Ele arriou a capota e me deu a chave. Dei uma volta naquela Lafer e foi amor à primeira vista.

Mas que beleza de carro: direção leve, força incomum, para engatar uma ré temos uma visão incrível... Não sei, a única explicação é amor à primeira vista. Ele pedia 50 balas no carro. Achei muito caro, então saí á procura de uma.

Encontrei pela internet uma na Private Collection. Pedi ao João que fosse olhar o carro para mim. Naquele sábado pela manhã, ele foi lá e a Lafer vermelha estava em exposição, porém com um comprador em negociação naquele momento.

Palavras do João naquele momento bem baixinho pelo celular:

- A Lafer está aqui, é muito boa, mas tem um cara olhando e falando com o vendedor, deixa ele sair que eu entro em cena.

João esperou a saída do mesmo, no entanto ele já havia fechado a compra.

No mesmo dia, já de tarde, o João me liga:

- Encontrei uma Lafer para você, o cara tem duas! Todas são boas mas ele só disponibiliza a cinza prata, vou bater umas fotos e te mando.

Mandou as fotos e fechamos o negócio.

Ganhei o livro da Lafer de sua autoria, foi presente do Miranda, o qual vai participar no passeio para Águas de Lindóia no próximo sábado. Mando por ele um abraço para você."

Respondemos na mesma data:

Caro Agérico,

Grato pela espirituosa maneira pela qual você relata como se interessou pelo MP Lafer. Peço inclusive sua autorização para publicá-la no site mplafer.net, junto com uma foto de cada MP Lafer de sua coleção.

Pode ter a certeza de que nunca restaurei um MP Lafer. Tenho um MP vermelho 1974, desde 1997, com todas as marcas do tempo e do uso. Em 2008 comprei um MP Lafer 1977 branco do João Saboia, de Resende, e fiz algumas coisas no carro antes de entregar ele de presente para os meus pais, no Natal daquele ano. Tempos depois meus pais pediram para que eu vendesse o carro para ajudar na faculdade da neta, de quem eles são tutores e eu sou o padrinho.

Fico feliz que tenha um exemplar do meu livro e honrado por saber que o Miranda virá do Recife especialmente para o passeio do MP Lafer.

Abraços!"

MP Lafer 1979 com placas pretas participa dos eventos de antigos em Pernambuco.
MP Lafer 1979 com placas pretas participa dos eventos de antigos em Pernambuco.

Morgan 3 Wheeler

Morgan 3 Wheeler: motor e suspensão dianteira expostos - um carro misturado com uma moto.
Morgan 3 Wheeler: motor e suspensão dianteira expostos - um carro misturado com uma moto.

A mais conservadora marca de carros esportivos da Inglaterra relança seu triciclo depois de quase seis décadas, alimentando a chama do entusiasmo.

Texto: Jean Tosetto | Fotos: Percival Lafer


As grandes marcas inglesas – todas – foram adquiridas por gigantescos conglomerados internacionais: Rolls & Royce, Bentley, Jaguar e MG já passaram de mão em mão. Umas por tradicionais grupos americanos e alemães, outras por emergentes indianos e chineses. A Morgan Motor Company, fundada em 1909 na região de Malvern, nunca procurou ser grande e talvez por isso sobreviva até hoje, permanecendo com a mesma família que lhe empresta o sobrenome, já na terceira geração.

Sua produção anual dificilmente ultrapassa as mil unidades, o que faz a fila de espera por um modelo aumentar continuamente. Também pudera: a construção dos carros é totalmente artesanal numa fábrica com menos de 180 funcionários – o que faz de cada exemplar produzido um carro altamente customizado e único. A estrutura dos veículos é de madeira tratada, que recebe carrocerias de alumínio num processo que pouco se alterou neste mais de um século de tradição.

Nada de eletrônica embarcada: no Morgan 3 Wheeler os instrumentos do painel são analógicos. Repare nos capacetes deixados no assoalho do carro.
Nada de eletrônica embarcada: no Morgan 3 Wheeler os instrumentos do painel são analógicos. Repare nos capacetes deixados no assoalho do carro.

Os primeiros carros da Morgan não eram convencionais: eles eram ciclo-carros, mais conhecidos como triciclos. Usavam rodas e motores de motocicletas, com transmissão direta de correias para a roda traseira. A intenção era fugir dos impostos, que sempre foram muito altos no Reino Unido, mas a leveza dos carrinhos fez eles se destacarem nas pistas de corrida, dando início ao culto da marca entre os entusiastas e esportistas.

A Morgan só foi lançar seu primeiro modelo de quatro rodas – e quatro cilindros – em 1936. Adivinhe o nome: Morgan 4/4. No começo da década de 1950 a produção dos modelos de três rodas foi interrompida com a ascensão da Morgan num mercado de roadsters disputado por MG, Triumph e Austin-Healey. A concorrência, no entanto, durou até 1980, quando o último MG B foi fabricado – só a Morgan sobreviveu.

Atualmente a tradicional marca inglesa oferece os modelos 4/4, Plus 4, Roadster, 4 Seater, Plus 8, Aero Supersport e Aero Coupe – um considerável leque de opções, se levarmos em conta o porte contido do fabricante. Para aqueles que anseiam a volta que nunca ocorrerá do MP Lafer, a Morgan está aí para lhes vender seus brinquedinhos caros, mas muito bem construídos e excitantes.

O Morgan 3 Wheeler tem estofamento personalizado em couro ecológico costurado à mão. O cinto de segurança é quase figurativo neste modelo sem capota.
O Morgan 3 Wheeler tem estofamento personalizado em couro ecológico costurado à mão. O cinto de segurança é quase figurativo neste modelo sem capota.

Na segunda década do século 21 a Morgan resolveu retomar suas origens e relançou um triciclo denominado 3 Wheeler, fazendo concessões para a modernização de alguns aspectos adotando, por exemplo, o câmbio de cinco marchas derivado do roadster Mazda Miata, acoplado ao motor da S&S de dois cilindros em V, com capacidade próxima dos dois litros.

Como a roda motriz é isolada na traseira, o 3 Wheeler não têm diferencial. O torvelinho também é desprovido de direção assistida, freios ABS, airbags e engenharia de deformação prévia da cabine em caso de colisões frontais. Suas rodas raiadas são estreitas e seus freios a tambor, com discos ventilados, não se destinam ao trânsito diário das grandes cidades. O conjunto pesa menos de 500 kg e é capaz de ir de 0 a 100 km/h em menos de 6 segundos. Sua velocidade final é perigosa para o seu contexto: 185 km/h.

Com todos esses atributos, o Morgan 3 Wheeler não é destinado para o motorista comum senão aquele adepto de emoções autênticas ao volante. A homologação do modelo para os Estados Unidos só foi possível devido ao veículo ter sido classificado como uma motocicleta. Por isso, o uso do capacete na terra do Tio Sam é obrigatório para o motorista e o passageiro. Se fosse classificado como modelo convencional o 3 Wheeler levaria uma bomba sonora perante as normas americanas.

Por sinal o modelo que ilustra este artigo foi fotografado justamente nos Estados Unidos, em Nova Iorque – uma cidade cosmopolita onde carros como o 3 Wheeler são vistos com maior frequência. Em março de 2014 Percival Lafer esteve lá, numa viagem de negócios. Ele se lembrou dos leitores do mplafer.net quando viu a barata estacionada na rua, sem qualquer flanelinha por perto.

Escapamento à vista, santantonios e para-brisas comedidos para não restringir o prazer de guiar o 3 Wheeler.
Escapamento à vista, santantonios e para-brisas comedidos para não restringir o prazer de guiar o 3 Wheeler.

Na Inglaterra o 3 Wheeler é vendido por cerca de R$ 110.000,00 – o que nos faz crer que dificilmente veremos um Morgan rodando em vias brasileiras em curto prazo, devido à proibitiva carga tributária e alfandegária que praticamente triplica o custo da aquisição, num cenário protecionista muito parecido com o que ocorria na década de 1970, quando o regime político sequer era democrático.

Veja também:

Livro do MP Lafer chega ao Japão

Alessandra Yumi Yamada como o livro do MP Lafer diante do famoso Monte Fuji, no Japão.
Alessandra Yumi Yamada como o livro do MP Lafer diante do famoso Monte Fuji, no Japão.

O livro "MP Lafer: a recriação de um ícone" foi escrito em Paulínia, no estado de São Paulo, e foi revisado em São Sebastião do Paraíso, em Minas Gerais. Sua impressão ocorreu em Indaial, Santa Catarina. Três cidades pequenas do interior do Brasil. Quem diria que tal obra atravessaria o mundo e chegaria ao Japão? Pois é o que acaba de acontecer: recebemos duas das fotos mais bonitas deste site no dia 06 de abril de 2014 - um dia depois da linha de produção do MP Lafer completar 40 anos de inauguração oficial.

Além da emoção inegável de ver a capa do livro fotografada num país tão distante, temos o prazer de apreciar o cenário ao fundo: o Monte Fuji. A montanha mais alta do Japão é um vulcão ativo com baixo risco de erupção, e representa um dos ícones turísticos da Terra do Sol Nascente. Em seus arredores, na cidade de Gotemba, vive a família nipo-brasileira Yamada. Nas fotos aparecem Alessandra Yumi e seu pai, o Alexandre.

Alexandre Yamada é o pai da Yumi. Ele trabalha numa fábrica e está fazendo um curso técnico de mecânica automotiva na Toyota.
Alexandre Yamada é o pai da Yumi. Ele trabalha numa fábrica e está fazendo um curso técnico de mecânica automotiva na Toyota.
Alexandre Yamada trabalha como operário numa fábrica e está na 16 ª turma de brasileiros que fazem um curso técnico de mecânica automotiva oferecido pela Toyota. O objetivo da fabricante de carros é que estes brasileiros, quando retornarem ao Brasil, possam seguir junto com a empresa trabalhando como mecânicos habilitados numa das 143 concessionárias deste importante mercado consumidor.

Foi ele quem encomendou um exemplar do livro do MP Lafer diretamente com o autor, através de seu primo André Yamada, que também já trabalhou no Japão. O livro foi entregue ao André, devidamente autografado, no dia 07 de fevereiro de 2014, e levou quase dois meses para chegar ao destino.

O livro do MP Lafer foi encomendado no Brasil através de um primo, o André Yamada, que despachou o exemplar pelos Correios junto com a correspondência da família.
O livro do MP Lafer foi encomendado no Brasil através de um primo, o André Yamada, que despachou o exemplar pelos Correios junto com a correspondência da família.

Do Brasil para o mundo

Antes de chegar ao Japão, o livro do MP Lafer conquistou primeiro o território nacional. Do Rio Grande do Sul ao Amazonas, quase todos os estados brasileiros receberem pelo menos um exemplar desta publicação. Naturalmente São Paulo é o estado que tem mais leitores do livro, mas tivemos a satisfação de remeter vários exemplares para o Paraná na região sul, e Pernambuco no nordeste, entre outros.

Um argentino, em trânsito por São Paulo, queria comprar o livro no Aeroporto de Guarulhos. Não tendo o encontrado, nos enviou um e-mail pedindo auxílio. Orientamos ele para ir até a Livraria Bookstore, no centro da cidade. Deu certo!

Logo, foi necessário criar uma conta no Pay-Pal para atender às encomendas internacionais. Deste modo o livro do MP foi entregue nos Estados Unidos e na Itália. Na Alemanha ganhamos até um destaque num site dedicado ao MP Lafer.

Em agradecimento à colaboradores do livro, exemplares foram enviados para a Inglaterra, berço dos MGs, e Malásia - onde o TD 2000, uma espécie de primo do MP Lafer, teve seus dias de glória. Edward Teo, presidente da TD Cars Malaysia, que curiosamente usa motores da Toyota em seus veículos, nos escreveu uma atenciosa mensagem, em 13 de março de 2013:

"Os meus parabéns pela produção de um livro tão emocionante, documentando os aspectos históricos do MP Lafer e outros carros. 

Enquanto não posso ler em português, fico imaginando a quantidade de tempo e esforço que você gastou preparando deste livro. Além disso, tenho certeza de que os amantes de carros clássicos vão apreciar a leitura. Há muita paixão permeando todas as páginas deste livro. 

Meu agradecimento muito especial a você pela inclusão de um capítulo sobre o TD 2000 Roadster. Muito apreciado."

Depois do exposto acima, creio que você não precisa mais perguntar o que este escritor ganha ao publicar um livro independente.

- Jean Tosetto

Saiba mais sobre o TD 2000
As melhores coisas da vida acontecem offline. Desconecte-se. Viva mais. Leia mais. "vivalendo.com"

A fábrica da Lafer no arquivo da Stanford

Imagem editada a partir de tela congelada do site da universidade americana de Stanford, com índice de fotografias da fábrica da Lafer em 1976.
Imagem editada a partir de tela congelada do site da universidade americana de Stanford, com índice de fotografias da fábrica da Lafer em 1976.

A linha de produção do MP Lafer completa 40 anos de inauguração em 05 de abril de 2014 e quem recebe o presente é o leitor de mplafer.net

O registro da história do MP Lafer parece inesgotável. Por mais que se pesquise a respeito deste carro, sempre aparece alguma novidade para acrescentar conhecimento para o entusiasta do modelo e do seu universo, incluindo aí os demais protótipos da Lafer e todo o seu contexto histórico e geográfico.

Uma das maiores dificuldades que tivemos para escrever o livro "MP Lafer: a recriação de um ícone" foi encontrar imagens de época do chão da fábrica, uma vez que a própria empresa não dispunha de muitas fotografias neste sentido, em seu arquivo. O que conseguimos publicar não foi pouco, embora tenha sido um desafio restaurar imagens tingidas pela pátina do tempo.

Eis que agora surge uma preciosa fonte com 111 fotografias de grande valor histórico da fábrica do MP Lafer, além do exótico protótipo denominado Lafer LL, com uma qualidade de preservação ímpar, típica da política de conservação de documentos das melhores universidades do mundo. Estamos nos referindo à Stanford University, sediada na Califórnia, nos Estados Unidos.

A instituição americana mantém a Revs Digital Library - uma biblioteca digital especializada na história do automóvel, reunindo milhares de fotografias das mais variadas marcas e modelos, abrangendo coleções de importantes fotógrafos e jornalistas de renome.

O responsável pelas fotografias da Lafer é o festejado jornalista, historiador e escritor Karl Ludvigsen, que esteve no Brasil em novembro de 1976 para cobrir uma edição do Salão do Automóvel de São Paulo, tendo aproveitado a viagem para visitar algumas fábricas brasileiras, como Ford, Puma e Lafer.

As imagens captadas por Ludvigsen valem cada clique. Nelas podemos ver em detalhes o painel do protótipo Lafer LL, com os mostradores digitais no cubo do volante, além do motor de seis cilindros em linha da GM, alimentados por três carburadores. Pelas fotos, sabemos que a tampa do porta-malas tinha um suporte para guardar o macaco e outras ferramentas.

Sobre o MP Lafer temos as várias etapas de sua construção, como o chassis da VW sendo preparado para receber as carrocerias, com várias unidades dispostas numa curiosa organização. Há pessoas trabalhando no interior dos carros e o próprio Percival Lafer aparece em várias imagens, vestido de acordo com o melhor da moda na década de 1970.

A coleção termina mostrando um MP Lafer de teste. Apesar das imagens serem em preto e branco, sabemos que o carro tinha placas verdes. Diversas fotografias mostram detalhes deste carro, que certamente servirão de referência para futuras restaurações que tenham como objetivo preservar a originalidade do modelo.

Assim que tomamos conhecimento desta série de fotos, entramos em contato com Percival Lafer, que assim nos respondeu:

"Caro Jean,

Obrigado pelo envio desta preciosidade.

Isto é realmente espantoso – e fantástico. Pensei a princípio que teria sido por conta do meu sobrinho Eduardo Lafer, que cursou o MBA em Stanford nesta época, mas vendo as fontes indicadas no próprio material, vi que vieram do Karl Ludvigsen, um super jornalista especializado em automobilismo, que veio ao Brasil para fazer  a cobertura do Salão do Automóvel de 1976, e que esteve em nossa fábrica também. É um sujeito muito importante e extremamente simpático.

Sem dúvida, este material poderia ir para o seu site, mas isso é legalmente possível?

Grande abraço,

Percival"

Infelizmente teremos que responder ao caro Percival que não será possível republicar as imagens neste site. As regras do Instituto Revs são claras: a requisição de fotografias, mediante o pagamento de taxas, se limita a uso pessoal relacionado com pesquisas educacionais e científicas, ou para restauração e preservação de veículos, sendo negada a reprodução das imagens para uso comercial. Não seria exatamente o nosso caso, mas vamos respeitar.

Sabemos bem o que é ter imagens e textos usados sem nossa permissão. Portanto, para ilustrar este artigo, nos limitamos a reproduzir uma tela do próprio site da Revs, com um índice de imagens em miniatura. O link para navegação em todas as fotografias, com ferramentas de zoom, está aqui: boa diversão!

- Jean Tosetto


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