MP Lafer é destaque em Arezzo na Itália

É tempo de primavera em Arezzo: é tempo de MP Lafer!
É tempo de primavera em Arezzo: é tempo de MP Lafer!

Tiziano Casimirri tem um MP Lafer em Arezzo na região da Toscana, Itália. Ele relata o 13º Raduno Provinciale Auto e Moto  Storiche “Cittá di Arezzo".

Quem dirige um MP Lafer ocasionalmente sabe que as pessoas nos postos de combustíveis, nas calçadas dos restaurantes e mesmo nos sinais de trânsito farão perguntas simples do tipo:

- Onde esse carro foi feito?

Geralmente, elas se surpreendem quando afirmamos que o MP Lafer foi feito no Brasil mesmo, na cidade de São Bernardo do Campo, entre 1974 e 1990. Se a breve conversa continuar, os ouvintes ficarão surpreendidos novamente, ao saber que o modelo foi exportado para vários países do mundo, inclusive da América do Norte e da Europa.

Dentre as nações que mais receberam o MP Lafer estão a Alemanha e a Itália. Na Alemanha os entusiastas do MP Lafer são mais organizados, tanto que realizam um encontro anual há mais de dez anos. Na Itália, os entusiastas da marca estão mais dispersos.

Isto não significa que eles não se importam com o MP Lafer. Pelo contrário: buscam por informações, peças e ou simples correspondência com os representantes não oficiais do MP Lafer no Brasil, embora o fabricante reconheça publicamente o empenho do Clube MP Lafer Brasil e do site mplafer.net na preservação da memória do conversível.

Assim, foi com satisfação que recebemos o contato de Tiziano Casimirri, policial na cidade de Arezzo, na Itália. Ele tem um MP Lafer ano 1979, que se deu de presente quando completou 50 anos de idade, em 2019. Desde então, sempre que pode, ele leva sua máquina – e sua noiva Mascia, nos encontros de carros antigos e especiais na região da Toscana, onde o clima idílico faz jus à expressão “Dolce Vita”, que os italianos exportam para o resto do mundo, embora as pessoas estejam cada vez mais ocupadas com outras coisas, enquanto a vida passa.

Nesta ocasião, ele encaminhou imagens do 13º Raduno Provinciale Auto e Moto Storiche “Cittá di Arezzo”, com os seguintes dizeres:

“Oggi abbiamo fatto un raduno di auto d'epoca nella mia città, Arezzo. La mia MP è stata apprezzata da tutti. Tanti saluti dall'Italia a tutti gli appassionati di Lafer. Ciao!”

O 13º Passeio Provincial de Carros e Motos Históricos “Cidade de Arezzo” ocorreu num domingo, dia 25 de maio de 2025. E se você não compreende o idioma italiano, traduzimos:

“Hoje tivemos um encontro de carros antigos na minha cidade, Arezzo. Meu MP foi elogiado por todos. Saudações da Itália a todos os entusiastas do Lafer. Tchau!”

Grazie, Casimirri. Obrigado pela amizade e por compartilhar um pouco da sua doce vida italiana com a gente.

Galeria de imagens

Casimirri e seu MP Lafer 1979.
Casimirri e seu MP Lafer 1979.

Um Citroën, um MP Lafer e várias pessoas diante da catedral de Arezzo.
Um Citroën, um MP Lafer e várias pessoas diante da catedral de Arezzo.

Além dos carros, a bicicleta é outra paixão dos italianos.
Além dos carros, a bicicleta é outra paixão dos italianos.

Várias marcas e um objetivo: curtir um domingo diferente.
Várias marcas e um objetivo: curtir um domingo diferente.

Fiat 500, Beetle Cabriolet e MP Lafer: carros ideias para desfrutar o melhor da Toscana.
Fiat 500, Beetle Cabriolet e MP Lafer: carros ideias para desfrutar o melhor da Toscana.

MP Lafer: um automóvel brasileiro aceito no concorrido mercado europeu.
MP Lafer: um automóvel brasileiro aceito no concorrido mercado europeu. 

Onde tem um MP Lafer, tem gente feliz por perto.
Onde tem um MP Lafer, tem gente feliz por perto.

Os motociclistas também apreciaram o evento promovido em Arezzo.
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Após várias edições itinerantes, o Clube do MP Lafer optou por se estabilizar em Holambra para promover os encontros anuais recentes, numa nova fase.

Por Jean Tosetto

Tire as coisas sem sentido da vida e a vida perde o sentido. Ao observarmos a imagem acima com a frieza da razão, poderemos questionar qual a utilidade dos guarda-chuvas pendurados sobre a alameda. Os mais atentos observarão as fachadas em estilo holandês e quem conhece o lugar sabe que por trás daquele conjunto colorido existe um galpão bem brasileiro. E quem conhece um pouco sobre automóveis, sabe que o MP Lafer não é exemplo de carro utilitário, pois só leva duas pessoas envoltas numa carroceria de portas cortadas em diagonal, fora o motor VW refrigerado a ar alojado na traseira, deixando aquela grade frontal de radiador sem função específica, salvo preservar a estética de um tempo que não volta.

Agora podemos fazer o exercício reverso: tire os guarda-chuvas coloridos da rua, as fachadas coloridas do galpão e o MP Lafer de circulação. O que sobra?

Também podemos estender o questionamento para a razão de ser de um encontro anual de MP Lafer. O que leva uma pessoa de São Paulo a percorrer pouco mais de 130 km entre São Paulo e Holambra apenas para ver outros automóveis parecidos com o seu?  Pois teve um casal que veio de Birigui, distante 433 km ou 5 horas de viagem só de ida, para estar junto com quem veio de São José do Rio Preto, distante "apenas" 332 km ou 4 horas de percurso sem contar a volta.

Teve gente que veio sem MP, mas vestiu a nova camisa do Clube MP Lafer Brasil, mesmo assim. Teve gente que ainda sonha em ter um MP, viajando para estar mais perto da fonte de seus desejos. Gente que se hospeda em hotéis e pousadas, almoça e janta em diversos restaurantes, confeitarias e lanchonetes. Gente que fez um bate e volta, no sábado ou no domingo. Gente que nem sabia que havia encontro do MP Lafer marcado para os dias 17 e 18 de maio de 2025, mas estava de passagem na cidade e se encantou com a reunião dos conversíveis de apelo puramente emocional.

Neste ano duas ausências foram relevantes: o Gilberto Martines, que esteve presente em todos os 27 encontros de MP Lafer anteriores, faltou pela primeira vez. O Romeu Nardini, diretor do Clube, foi tomado de assalto por uma forte gripe que o deixou de molho por alguns dias. Em compensação, os entusiastas da marca puderam contar com a presença de Percival Lafer e sua esposa, a Branca. Eles vieram a bordo do último MP Lafer finalizado na antiga fábrica de São Bernardo do Campo, em 1990. 

A filha Paula e o genro Miguel vieram também, num carro convencional, e puderam testemunhar como o designer de 89 anos é querido por pessoas de várias gerações, que lhe pediram autógrafos enquanto contavam parte de suas paixões pelo veículo.

Quem esteve presente em Holambra neste ano foi agraciado com um clima agradável como poucas vezes pode ser notado nas últimas décadas, com um sol que acalentava sem deixar a pele suada, e uma brisa suave que inspirava breves caminhadas pelas sombras das árvores espalhadas entre canteiros de flores e casas sem muros. Neste cenário idílico, Holambra recebeu 30 MPs no sábado e 26 no domingo (dos quais 16 pernoitaram na região e 10 não vieram no dia anterior), perfazendo um total de 40 MPs diferentes que circularam pela cidade, durante o fim de semana.

Há muitos pormenores que poderiam ganhar um comentário mais detalhado neste relato, cujas fotografias não revelam as conversar descontraídas trocadas entre turistas, moradores da cidade, proprietários e entusiastas do MP Lafer. O que você está lendo aqui, portanto, não é um registro de ata de uma reunião de sócios de uma empresa ou de moradores de um condomínio, mas um convite - ou quem sabe um estímulo - para que venha participar da festa conosco no ano que vem, quando, assim esperamos, repetiremos a carreata pelas principais ruas e avenidas de Holambra, na manhã de domingo.

Por fim, cabe mencionar o agradecimento ao Walter Arruda e sua esposa Regina, por estarem a frente do Clube do MP Lafer na organização dos 28 encontros anuais da marca, que recentemente ganhou a ajuda do Alfeu Cabral, cujo contato com a secretaria de turismo de Holambra tornou-se imprescindível, cujos membros representados pela Alessandra e pelo Matheus também são dignos da nossa gratidão.

Galeria

O pátio da Prefeitura de Holambra recebeu os MPs mais uma vez.
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Céu azul de brigadeiro sobre os MPs em Holambra.
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Percival Lafer autografa um exemplar do livro do MP para Marco Rossi.
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O criador do MP Lafer com um de seus proprietários mais antigos: o Jabá.
O criador do MP Lafer com um de seus proprietários mais antigos: o Jabá.

Walter, Branca, Paula, Carol, Percival, Jean e Renata.
Walter, Branca, Paula, Carol, Percival, Jean e Renata.

Dia tranquilo para caminhar sem pressa entre os carros dos amigos.
Dia tranquilo para caminhar sem pressa entre os carros dos amigos.

Turistas e proprietários de MPs interagem de forma espontânea.
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O pedalcar Bandeirante personalizado como o MP Lafer de Flávio Fernandes, de  Botucatu.
O pedalcar Bandeirante personalizado como o MP Lafer de Flávio Fernandes, de  Botucatu.

O MP Lafer Ti com rodas douradas de Reinaldo Keller, de Socorro.
O MP Lafer Ti com rodas douradas de Reinaldo Keller, de Socorro.

Encontro de MP e encontro de gente em Holambra.
Encontro de MP e encontro de gente em Holambra.

No sábado logo de manhã, os ciclistas param para ver os primeiros MPs chegando na cidade.
No sábado logo de manhã, os ciclistas param para ver os primeiros MPs chegando na cidade.

Filtro vermelho acionado na foto em preto e branco, para salientar a beleza dos MPs.
Filtro vermelho acionado na foto em preto e branco, para salientar a beleza dos MPs.

O canteiro de flores emoldura a foto com os MPs.
O canteiro de flores emoldura a foto com os MPs.

Turista se prepara para fazer uma selfie diante de um MP Lafer.
Turista se prepara para fazer uma selfie diante de um MP Lafer.

Branca & Percival: parceria de mais de 60 anos.
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Flores e MPs colorindo Holambra.
Flores e MPs colorindo Holambra.

Este MP 1990 pertence ao Percival Lafer: o último que saiu da fábrica.
Este MP 1990 pertence ao Percival Lafer: o último que saiu da fábrica.

A foto que não pode faltar num relato de encontro de MP Lafer, com seus para-lamas perfilados.
A foto que não pode faltar num relato de encontro de MP Lafer, com seus para-lamas perfilados. 

Os entusiastas do MP Lafer reunidos na tarde de sábado em Holambra.
Os entusiastas do MP Lafer reunidos na tarde de sábado em Holambra.

A coleção de miniaturas de MP Lafer do Luiz Wagner de Almeida, de Campinas.
A coleção de miniaturas de MP Lafer do Luiz Wagner de Almeida, de Campinas.

Os entusiastas do MP Lafer reunidos no domingo de manhã em Holambra.
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Percival Lafer e Jean Tosetto na Forneria San Paolo.
Percival Lafer e Jean Tosetto na Forneria San Paolo.

O criador do MP Lafer e o autor do livro sobre o carro se encontram para um café, que ficará na memória compartilhada com os amigos deste conversível.

Ao nos despedirmos após do almoço de fim de ano do Clube do MP Lafer em Santana de Parnaíba, Percival Lafer me disse:

- Quando vier a São Paulo novamente, me avise. Vamos tomar um café.

Um convite como esse é irrecusável, mas só agora, no mês de maio, surgiu a oportunidade para colocar em ação o que algumas palavras formais sugerem. Vim para São Paulo representar a Suno Research na "Mobility & Show + Expo Braille 2025", uma feira realizada no Transamérica Expo Center. A FastBraille, uma das expositoras do evento, está gerando versões em Braille dos livros da Suno, que escrevi ou editei nos últimos anos.

Avisei o Percival que estaria na Livraria da Vila no Shopping JK por volta das duas horas da tarde, mas cheguei um pouco mais cedo. Então, para não flanar feito um fantasma pelas estantes de livros, resolvi comprar Fragmentos para a história da filosofia, de Arthur Schopenhauer. Assim, pude me ajeitar no canto de um sofá almofadado, para não incomodar os outros. Após terminar o capítulo sobre Sócrates, levantei o pescoço feito um periscópio de submarino e, por coincidência, o Percival estava entrando na loja.

Caminhamos até a Forneria San Paolo. Pedimos permissão para apenas tomar um café ali, dado que o lugar é um restaurante de culinária italiana. Pedi um cappuccino e uma garrafa de água para o garçom, que perguntou:

- Cappuccino médio ou pequeno?

- Cappuccino pequeno é sacrilégio. Quero um médio.

O Percival me acompanhou no pedido. Somos de gerações diferentes, ainda que do mesmo século. Ele nasceu em 1936 e faz parte da Geração Silenciosa, que ajudou a construir o Brasil urbano a partir dos anos de 1960, gerando empregos ao invés de seguidores em redes sociais. Nasci em 1976 e sou da Geração X, da encruzilhada da Era Analógica com a Era Digital. Não por acaso, nosso primeiro assunto foi sobre a Geração Alpha, de quem nasceu após 2010, que terá que lidar com um mundo totalmente novo, sem paradigmas e dogmas, mas sem referências sólidas para lidar com os avanços da tecnologia, especialmente da inteligência artificial.

Nós, entretanto, somos outros tipos de alfa: somos remanescentes do século XX que gostam de conversar como machos alfa, falando de carros, obviamente. Ele citou seu BMW coupé de 1970, um modelo com um desenho irrepreensível que trazia uma inovação: o comando variável de válvulas, que na época ainda não estava plenamente desenvolvido e, embora transformasse um gato manso num lince conforme se pisava no acelerador, costumava falhar com alguma frequência, no que interpretei que isso também acontece com nossas carreiras profissionais, uma vez que, em tese, sabemos que há momentos para dedicação total aos negócios, ao passo que há momentos para amansar o ritmo das coisas, mas nunca sabemos como fazer isso corretamente.

Logo falamos do nosso carro favorito, aquele que nos transformou em amigos: o MP Lafer. Confessei o receio de que, em breve, seremos proibidos de guiar carros com motores a combustão por aí, nesse mundo cada vez mais politicamente correto e ecologicamente mais restritivo. Percival respondeu que não acredita que isso vá acontecer tão cedo, mas que, em todo caso, estou liberado para espetar um motor elétrico em meu carro. Já vislumbrou a revolução? Poderíamos alojar a grande bateria no assoalho do capô dianteiro, equilibrando a distribuição de peso do conjunto e praticamente criando um novo modelo, que poderíamos batizar de E-Lafer, com a eletrônica embarcada substituindo a sigla MP, de Móveis Patenteados.

Por falar nisso, a máscara do macho alfa caiu ao tocar no tema do encerramento das atividades industriais e comerciais da Lafer, anunciada em outubro de 2022. Confessei para o Percival que chorei ao ler o comunicado, pois, após escrever o livro do MP Lafer, que também conta a história da Lafer, acreditei que a empresa duraria para sempre. Ele respondeu que seu irmão, Oscar Lafer, que era diretor comercial da companhia, foi provavelmente a pessoa que mais sentiu o fim das operações, pois a companhia fundada pelo pai, em 1927, representava muita coisa em sua vida. Alias, foi tocante ouvir ele falar de seu irmão e de seu talento nato para o violino.

Embora a Lafer tenha fechado as portas, o trabalho interno ainda não terminou para Percival, pois é necessário resolver alguns passivos, como a destinação do estoque remanescente e o atendimento pós-venda relacionado com as garantias oferecidas para os últimos clientes. Além disso, ele continua desenhando e, no momento, está mergulhado no projeto de uma nova poltrona - não sei se deveria revelar isso, mas ao entregar a informação certamente haverá gente torcendo para que o projeto se torne realidade.

Além do mais, os entusiastas dos móveis Lafer não precisam se sentir órfãos. A ETEL Design está reeditando, ainda que em escala artesanal, as peças icônicas desenvolvidas por Percival Lafer, embora, ironicamente, ele não assinasse pessoalmente suas criações, pois sempre colocou a marca da empresa acima das vaidades pessoais. Talvez, por isso, Percival não tenha sido tão festejado nos anos de 1960 e 1970 como seus colegas de geração, que eram mais personalistas. Assim, o reconhecimento da criatividade dele está vindo de forma tardia, mas solidamente.

Nesse ponto da conversa, mostrei o exemplar do livro do Schopenhauer para Percival, para resgatar uma passagem de outro livro dele, que alias lhe trouxe o reconhecimento já na terceira idade. Em Aforismos para a Sabedoria de Vida o filósofo afirma:

"Uma vantagem da fama dos feitos é que ela geralmente vem imediatamente com uma explosão poderosa, muitas vezes tão poderosa que é ouvida por toda a Europa; enquanto a fama das obras chega lenta e gradualmente, primeiro silenciosamente, depois cada vez mais alto, e muitas vezes só atinge sua força máxima depois de cem anos: mas então ela permanece, porque as obras permanecem, às vezes por milhares de anos. A outra, no entanto, após a primeira explosão, torna-se gradualmente mais fraca, conhecida por cada vez menos pessoas, até que finalmente passa a ter uma existência espectral apenas na história."

Logicamente, sintetizei essa passagem na conversa, pois longe de mim ter a capacidade de decorar o que os livros clássicos eternizam. A vantagem de quem ler este relato é essa: que pude resgatar o que Schopenhauer escreveu de fato. Ele não se dava muito bem com as mulheres e era um tanto pessimista, mas tinha observações que vale a pena absorver.

Diferentemente do pensador do século XIX, Percival Lafer se deu muito bem ao menos com sua esposa Branca. Ela sempre foi a baliza para o designer saber se estava no caminho certo em suas criações. Percival me contou que a Branca era sempre a primeira pessoa a ver seus esboços iniciais de cada projeto, os quais ela criticava sem dó e sem medo de estremecer a relação, instigando o marido a melhorar cada detalhe para entregar um trabalho que certamente seria mais um sucesso da empresa. 

É muito bom ter essa liberdade de opinião dentro da própria casa. Imaginei que esta, provavelmente, foi um das razões para um casamento tão longevo. Tanto que perguntei:

- Há quantos anos você está casado?

- 63.

- E qual é o segredo para um casamento tão duradouro?

- Não tem segredo. A gente não pode correr atrás da pessoa ideal, pois ela não existe.

Essa é a grande falha que muitos cometem: se apaixonar não por uma pessoa de carne osso, mas pela projeção feita a partir dessa pessoa que vemos de vez em quando. Assim, quando o casal resolve morar junto, descobre que a outra parte não era aquilo que se imaginava e muitas vezes essa frustração resulta numa separação.

- Preciso voltar para Paulínia. Minha sobrinha está fazendo aniversário e não posso faltar na festa.

Ao que Percival tirou a carteira do bolso. Porém, o interrompi:

- Não, por favor! Deixe que eu pago o café. Quando foi a última vez que alguém te pagou um cappuccino?

A gente apertou as mãos no caixa eletrônico do estacionamento do Shopping, na borda do labirinto que se esparrama pelos pavimentos do subsolo daquele grande empreendimento. Combinamos um novo café, bastando a ocasião surgir. Em tempos virtuais é sempre bom resgatar o costume antigo de conversar pessoalmente.

Anoiteceu quando ingressei na Rodovia dos Bandeirantes. Caiu uma chuva torrencial e logo um engarrafamento se formou. Permaneci calmo ao sintonizar a Rádio Cultura de São Paulo, tentando memorizar as coisas mais importantes que falamos naquela tarde que, para mim, ficará guardada no coração (gostamos de acreditar que é preciso ser muito macho alfa para escrever algo como isso).

Você compreenderá que o que tornei público aqui foram apenas fragmentos de um diálogo, pois como adiantou Schopenhauer, tudo o que temos da história são fragmentos, não a história propriamente dita. Há miudezas que não valem o compartilhamento e há assuntos que ficam na esfera da amizade, como temas de livros que jamais serão escritos.

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28º Encontro do MP Lafer

Bom dia amigo Laferista,

Chegou mais uma oportunidade de colocar nossos carros na estrada.

Nosso encontro será em Holambra.

Vamos passar um ótimo fim-de-semana com nossos familiares e amigos.

Data: 17 e 18 de maio de 2025 (sábado e domingo)

Vamos procurar estar a partir das 9:00 horas do sábado, dia 17, no estacionamento da Prefeitura situado na Alameda Maurício de Nassau (a mesma da Expoflora), esquina com a Rua Inácio Fonseca (entrar pelo portal do Moinho), sendo que o estacionamento ficará fechado para o nosso Clube.

Aproveite a oportunidade e fique com a família em um dos vários hotéis e pousadas lá existentes já a partir de sexta-feira, dia 16.

Seguem abaixo algumas sugestões de hotéis:

Parque Hotel Vila de Holanda: (19) 99129 7689 – parquehotel@viladeholanda.com.br

Hotel Pousada Europa: (19) 99692 0552 - hotel@pousadaeuropa.com.br

No domingo às 10:00 horas, haverá uma carreata nos pontos principais na cidade, saindo do estacionamento da Prefeitura.

Não se esqueça de ir uniformizado e não deixe de revisar seu carro para não estragar sua viagem.

Até lá!

Walter Barboza de Arruda - Presidente - (11) 97122 6260 - walter.mplafer@uol.com.br

Romeu Nardini - Diretor - (11) 99154 4536 - meco98@uol.com.br 

Cartaz promocional do XXVIII Encontro do MP Lafer - Holambra 2025. Compartilhe sem moderação! (Arte digital por Jean Tosetto)
Cartaz promocional do XXVIII Encontro do MP Lafer - Holambra 2025. Compartilhe sem moderação! (Arte digital por Jean Tosetto)

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Gilberto Martines e o diorama do MP Lafer

O diorama dedicado ao MP Lafer tem a versão Ti e a clássica na mesma garagem.
O diorama dedicado ao MP Lafer tem a versão Ti e a clássica na mesma garagem.
O dentista Gilberto Martines é um colaborador de longa data do site do MP Lafer. No vídeo abaixo ele descreve como elaborou um diorama dedicado ao MP.

Os dioramas são pequenas janelas para mundos em miniatura, combinando criatividade, paciência e habilidade para dar vida a cenas incríveis. No universo do MP Lafer, essa arte ganha um toque especial com a dedicação de Gilberto Martines, dentista e entusiasta do modelismo, que criou um diorama exclusivo para celebrar a marca.

O que são dioramas?

Dioramas são representações tridimensionais de cenas, geralmente em miniatura, que combinam figuras, objetos e cenários para criar uma ilusão realista. Eles podem retratar paisagens naturais, eventos históricos, cenas do cotidiano ou até mundos fictícios. Comum em museus e no modelismo, os dioramas são uma forma envolvente de contar histórias e expressar criatividade.

Tipos de dioramas

Os dioramas podem assumir diversas formas, dependendo do tema e da finalidade. Veja alguns exemplos:

  • Históricos: representam eventos ou períodos do passado, como batalhas e cenas da vida cotidiana.

  • Naturais: retratam ecossistemas e habitats, como florestas e oceanos, com riqueza de detalhes.

  • Ficcionais: inspirados em mundos imaginários de filmes, livros e jogos.

  • Arquitetônicos: usados por arquitetos para apresentar maquetes de edifícios e cidades.

  • Educacionais: criados para ensinar conceitos de forma visual e interativa.

  • Modelismo: réplicas detalhadas de veículos, como aviões, navios e carros.

Como criar um diorama

Criar um diorama envolve planejamento e técnica. Aqui estão alguns passos essenciais:

  1. Planejamento: defina o tema e faça esboços para visualizar sua ideia.

  2. Base e estrutura: use madeira, papelão ou isopor para criar uma base firme.

  3. Modelagem: utilize argila, resina ou papel machê para moldar os elementos.

  4. Pintura: aplique tintas acrílicas para dar vida e realismo.

  5. Texturas e detalhes: acrescente areia, musgo artificial, tecidos e outros materiais para enriquecer a cena.

  6. Iluminação: luzes LED e efeitos de sombra aumentam o realismo.

  7. Montagem: organize os elementos respeitando proporções e perspectiva.

  8. Finalização: proteja a peça com verniz e adicione os últimos detalhes.

Materiais essenciais

Os materiais variam conforme o estilo e o tema do diorama, mas alguns são indispensáveis:

  • Base: MDF, isopor, papelão.

  • Terreno: isopor para montanhas, papel machê para texturas, areia para solos.

  • Vegetação: musgo natural ou artificial, esponjas trituradas para arbustos.

  • Água: resina epóxi para lagos e rios, cola quente para cascatas.

  • Personagens e objetos: figuras de plástico ou resina, massa de modelar.

  • Pintura: tintas acrílicas e pincéis finos.

  • Colas: cola branca, quente e de contato para fixação.

Criar dioramas é uma atividade gratificante que permite transformar uma ideia em uma cena impressionante. Seja para representar a história do MP Lafer ou qualquer outro tema, essa arte em miniatura proporciona uma experiência única de expressão e criatividade.

Veja também:

Diorama com MP Lafer prateado

Miniatura do MP Lafer em escala 1/43

Percival Lafer: Design, indústria e mercado (Amazon)

Lafer LL 006: o paradeiro no Pará

Agachados diante do Lafer LL 006 em Santarém do Pará: Alan Dolzane e José Francisco Viana.
Agachados diante do Lafer LL 006 em Santarém do Pará: Alan Dolzane e José Francisco Viana.
 
Depois de mais de uma década desaparecido, reaparece o que sobrou do Lafer LL número 6, com uma das 8 carrocerias que a Lafer produziu há meio século.

O site mplafer.net é uma espécie de guardião da memória do MP Lafer, do Lafer LL, dos clubes dedicados à marca e da própria Lafer, que encerrou a fabricação de móveis em 2022, depois de 95 anos de história. Estamos online desde 2001 e vimos surgir várias tendências na Internet, inclusive a das redes sociais, que dizimou incontáveis sites e blogs variados, de uma época em que produtores de conteúdo, profissionais ou não, alcançavam o público organicamente, sem gastar um centavo com anúncios e postagens patrocinadas.

Em 2025 é preciso garimpar para encontrar o que se procura, uma vez que os mecanismos de busca deixaram de ser eficientes há muito tempo, pois passaram a priorizar a rentabilidade oriunda de grandes plataformas de comércio, cujos programadores de SEO (sigla em inglês para Search Engine Optimization ou Otimização para Motores de Busca, em português) fazem o termo "MP Lafer" aparecer primeiramente em Marketplaces, deixando as páginas com conteúdo relevante lá no limbo. 

Ainda assim, por insistência de alguns, que cavam na terceira ou quarta página de resultados de busca, somos encontrados e recebemos algumas notícias que, cedo ou tarde, compartilhamos por aqui. Então, em 16 de outubro de 2024, recebemos um e-mail do Bruno Corrêa, com uma fotografia anexada mostrando um raríssimo jogo de rodas do Lafer LL, acompanha da seguinte afirmação:

"Estava procurando um jogo de roda tala larga para meu Opala e acabei achando esse jogo em uma oficina em Campinas. Quando montar no meu Opala mando mais fotos."

Jogo de rodas do Lafer LL: mais raro que pé de samambaia pendurado na lua.
Jogo de rodas do Lafer LL: mais raro que pé de samambaia pendurado na lua.

Até aí, tínhamos uma informação localizada, mas sem conexão com uma história maior. Não tardou, porém, para o Alan Dolzane nos encontrar no Instagram, apenas doze dias depois. Ele perguntou se havíamos publicado o artigo "Um Lafer LL no Amazonas" em junho de 2011 (portanto, há quase 14 anos). O texto se referia ao Lafer LL 006, que se encontrava aparentemente encostado numa oficina da periferia de Manaus, capital do Amazonas. Na ocasião, o carro foi posto para venda, pois o proprietário estava desinteressado em seguir com a restauração do modelo, já severamente desfigurado. Na sequência, um diálogo se iniciou após o envio de imagens com o estado atual do carro:

Alan Dolzane: "Sou fã de carros e gosto de garimpar esses tesouros perdidos, creio que esse seja o MP que tenha sumido das ruas, já que ele se encontra guardado."

Jean Tosetto: "Alan, esse é um raríssimo Lafel LL. Tem mais informações sobre o carro? Sou editor do site mplafer.net e certa vez escrevi um artigo sobre esse carro. Toda informação será bem-vinda."

AD: "Sim, esse veio de Manaus , agora se encontra em Santarém, Pará, nas mãos do mecânico e preparador José Francisco Viana, conhecido como Padre Preparações. Estávamos tentando decidir o que fazer com o carro, já que não há peças de reposição. Estávamos cogitando em preparar ele para arrancada e aproveitar sua plataforma já adaptada para o motor do Opala. O carro, até o momento, está guardado em uma garagem, longe da ação do tempo que já castigou demais aquela joia. Esse carro ainda voltará às ruas, seja na originalidade dos seus dias de glória ou seja com um 6 cilindros turbinado, pronto para correr, mas não iremos deixar esse veículo se perder novamente."

JT: "Alan, esse carro merece ficar original. Se o proprietário tiver interesse em vender, posso ajudar a encontrar um entusiasta da marca disposto a recuperar o carro."

AD: "Resta saber o que ele quer fazer com o carro, mas como não consegui fazer o comentário lá na página, decidi vir aqui dizer como o carro está e onde está. Sei que deve ter fãs por todo Brasil, e essa relíquia não irá se perder para o tempo."

JT: "Só foram feitas 8 carrocerias desse carro. Ele merece ficar original."

AD: "Partilho do mesmo pensamento."

JT: "Oriente ele para tentar preservar o chassi original junto da carroceria, se der para salvar o chassi."

AD: "Irei fazer isso, na verdade já fiz. Tanto que as caixas de roda ainda estão originais."

JT: "Vou te passar o contato do Bruno Corrêa, ele tem as rodas originais do Lafer LL! Ele é do interior de São Paulo. Você pode tratar direto com ele. Fica tranquilo, faço isso só para ajudar. Zero comissão."

E desse modo, tentamos fazer a nossa parte para que um Lafer LL possa ser recuperado da melhor forma possível. O site mplafer.net tem uma página de contato para quem quiser colaborar com esse resgate, seja com eventuais peças de estoque, seja com orientações e repasse de contatos de quem pode prestar algum tipo de serviço relacionado a um carro com carroceria de fibra de vidro amalgamada no chassi de um Chevrolet Opala.

O Lafer LL 006 com dois faróis dianteiros a menos.
O Lafer LL 006 com dois faróis dianteiros a menos.

A entrada de ar (não original) foi suprimida da tampa do motor.
A entrada de ar (não original) foi suprimida da tampa do motor.

Do acabamento do interior do Lafer LL 006 sobrou só o interior.
Do acabamento do interior do Lafer LL 006 sobrou só o interior.

O bocal do tanque de combustível esperando o dia de receber o bico de uma bomba de gasolina.
O bocal do tanque de combustível esperando o dia de receber o bico de uma bomba de gasolina.

A traseira do Lafer LL 006 igualmente depenada.
A traseira do Lafer LL 006 igualmente depenada.

Rodas motrizes de grande porte indicam que o Lafer LL 006 seria usado em pistas de arrancada.
Rodas motrizes de grande porte indicam que o Lafer LL 006 seria usado em pistas de arrancada.

Enfim, se você ama carros antigos e os modelos da Lafer especificamente, sua ajuda será bem-vinda. Agora, se você é só um especulador querendo lucrar com o sonho de terceiros, fique na sua, pois não queremos mais perder tempo com esse tipo de triagem. Em mais de duas décadas editando este site, nunca ganhamos um centavo de rebate sobre qualquer transação e seguiremos nesta toada. 

Nossas fontes de renda com este projeto editorial são apenas os anúncios veiculados pelo Google em nossos artigos, bem como os royalties sobre as vendas do livro do MP Lafer. Além disso, também somos afiliados da Amazon, que nos remunera pela recomendação de livros de outros autores, relacionados direta ou indiretamente com o meio automotivo.

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