Jaques Woller, Decio Meneguin e Gilberto Martines em sua antiga garagem da Mooca. |
A Lafer parou de fabricar o MP, mas continua fabricando amizades e bons momentos entre famílias, pois as histórias se renovam a bordo deste carrinho.
Por Decio Meneguin
Entre os anos de 2011 e 2013, quando buscava as minhas filhas no colégio Agostiniano, no Belenzinho, em São Paulo, muitas vezes me deparava com um belo carro champagne, provavelmente de alguém que também esperava o filho ou a filha, e que trazia a nostalgia dos anos bons da minha adolescência na década de 80, quando terminei o colégio e ingressei na faculdade - época boa, de grandes conquistas e sonhos.
O carro em questão era um MP Lafer. Naquele momento, não tinha uma ideia precisa de onde vinha essa paixão por esse modelo. Afinal, entre os anos 1970 e 1980, outros esportivos também reinavam e me faziam sonhar, como Puma, Karmann Ghia e SP2.
Ficava receoso de abordar o proprietário para perguntar sobre o carro e dizer o quanto gostaria de ter um. O fato do carro ser "aberto" me reprimia, pois, vivendo em uma época marcada por assaltos, pensava que o proprietário pudesse não gostar de ser questionado dessa forma. Além disso, esses encontros eram ocasionais, ora no horário do almoço, ora no fim da tarde, e ocorriam durante a saída da escola, vapt vupt.
Entre idas e vindas, mais ou menos em 2014, tive o prazer de ver um MP champagne, semelhante ao MP que via na época em que buscava as minhas filhas no colégio, parado no mesmo estacionamento onde deixava o meu carro, próximo ao meu trabalho, na Mooca. Por curiosidade, perguntei para o funcionário quem era o dono daquele carro e descobri que o MP pertencia ao Gilberto, um dentista cujo consultório era nos arredores do estacionamento. Conclui de que se tratava do mesmo carro.
Mais alguns meses se passaram até que, no primeiro semestre de 2015, deparei-me com uma novidade no estacionamento: um MP vermelho passou a ocupar uma das vagas. Questionei o funcionário sobre o carro e, por um momento, meu coração bateu mais forte e meus olhos brilharam quando ele contou que estava à venda e que pertencia ao Gilberto.
Chegando em casa, todo animado, contei para minha esposa e filhas. A Ana, minha esposa, é quem sempre me orienta nas nossas decisões e, lógico, ela me apoiou e incentivou para ir ver o carrinho, uma vez que ela sabia sobre o meu sonho antigo e sobre a nostalgia que o MP trazia para mim. A minha filha mais nova também apoiou. Já a minha filha mais velha, Giovana, disse "pai, é carro velho, vai dar problema e enferrujar". Respondi dizendo que era um carro de fibra, mas mal sabia que o assoalho poderia enferrujar (felizmente, o assoalho do MP vermelho estava e ainda está em ordem).
Nessa mesma época, também contatei um colega de profissão, e amigo, Jaques. Sendo ele proprietário de um belo MP vinho, conhecedor do modelo e alguém que também sempre me apoiou e ajudou com dicas. Pedi que fosse comigo ver o carro.
Peguei o telefone do Gilberto e marquei para olhar o MP já no sábado. Eu, minha família e o Jaques iríamos conhecer o carro de perto e a bela garagem do Gilberto, um verdadeiro mini museu do MP Lafer, na Mooca. Até então, não conhecia o Giba, gigante conhecedor do MP, e mal sabia que ele se tornaria um grande amigo a partir desse encontro.
Também não entendia absolutamente nada de MP Lafer. Sabia apenas que era um carro feito de fibra, o que já era uma grande coisa. Mas quanto a detalhes, por mais simples que fossem, eu não sabia nada – quer dizer, apenas sabia admirá-lo. A essa altura, a verdade era que já havia decidido que queria o carro, mas não disse nada logo de cara.
Finalmente, chegou o dia de ver o carrinho e a minha filha continuava insistindo que "carro velho só dá problemas". Na garagem do Gilberto, ficamos deslumbrados com as reportagens, coleções de revistas, carros em miniatura, quadros e acessórios de oficinas e postos de gasolina. Tudo lá era organizado caprichosa e meticulosamente. A garagem era o cartão postal, de apresentação, do Gilberto, um ser humano de coração gigante. E lá estava o MP vermelho, de capota abaixada.
O Giba ofereceu o carro para que eu desse uma volta no quarteirão. Lembro que fiquei um pouco receoso, mas, por fim. aceitei. Foram três voltas: uma com a minha esposa, outra com a minha filha mais nova e, a última, com a Giovana. Ela, loira e de cabelos longos, que voavam, passeou no MP de capota abaixada com os olhos brilhando.
- E aí, Gi, o que você acha? - perguntei.
- Olha, pai, é carro velho, mas se você quer mesmo, eu acho que você tem que comprar. É, acho que tem que comprar, mas é velho - ela falou com a voz afinada - acho que tem que comprar, você gosta e sempre gostou, então tem que comprar, tem que comprar! - ela enfatizou.
Estacionamos o carro em frente a garagem enquanto o Jaques chegava com a sua bela moto (além de gostar de MPs, ele também é apaixonado por motos, assim como o Gilberto).
No mesmo dia, batemos o martelo e fechamos com o Giba a compra de um carro e de uma maravilhosa amizade, que cresce mais a cada dia.
Em todos esses anos que paquerei o MP Lafer do Giba, não lembrava ao certo quando essa admiração pelo modelo teve início. Mas, em 2018, almoçando com um amigo do colegial (o ensino médio de hoje), mostrei algumas fotos do meu MP e ele comentou que já na época de escola, por volta dos meus 16 anos, eu comentava sobre o carro e dizia que um dia teria um para mim.
Decio Meneguin e seu MP Lafer "Vermelho Maçã do Amor". |
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Demais esse carro, tb sempre fui apaixonada por esse modelo, nesse tom de vermelho ficou mais lindo ainda... Parabéns ao Gilberto e ao novo proprietário.
ResponderExcluirO depoimento dado me faz lembrar exatamente da minha admimiração pelo modelo. Na época, universitário eu só poderia mesmo era sonhar com o MP Lafer. Foram necessários então 30 anos e filhos encaminhados, agora aposentado para poder ter o meu. Um modelo clássico exatamente na cor champagne. É pura alegria. Parabéns
ResponderExcluirCaro Osmir, saiba que o site mplafer.net está ao seu dispor para contar sua história com o MP, também. Nosso e-mail: mplafer@tosetto.net ou jean@tosetto.net - grato!
ExcluirOpa - legal Jean. Vou elaborar o texto e te envio com foto do carro. Obrigado
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