Uma jornada natalina

Papai Noel no MP LaferPapai Noel chega a bordo do MP Lafer na Estação da Luz em São Paulo.

Por Ronaldo Diniz Medina *

A minha ida a São Paulo, foi fruto da curiosidade pelo MP Lafer em julho de 2005. Lembrei-me de uma MP Lafer azul claro metálico, capota preta, que via estacionada em um condomínio fechado na cidade de Porto Seguro, Bahia.

Acabei por comprar uma casa neste condomínio e nas férias, sempre ao levantar pela manhã via esta "baratinha" estacionada, tomando sol. Uma vez ou outra ela era levada para passear pelo seu dono. O carrinho pertencia ao dono do condomínio, tinha vontade de dirigí-la mas não tinha coragem de pedir.

Alguns anos se passaram, o dono já tinha se mudado para Salvador, e a "baratinha" se foi com ele. As manhãs continuavam ensolaradas mas, na moldura do dia, faltava a "baratinha".

Um dia qualquer destes de agosto, navegando pela internet, entrei em um site de carros antigos e um link, me arremessou no site dedicado aos colecionadores de MP Lafer de São Paulo. Naveguei por ali, durante longas horas, e todos os dias, e acabei deixando um recado no livro de visitas.

Dizia que comparava a sensação de dirigir uma MP Lafer em uma estrada, à mesma sensação de se tirar uma bela mulher para dançar, em um salão de festas. Acho que é dai, o ciúmes que elas tem das "baratinhas", pois elas são "tiradas das garagens", principalmente em dias de festas.

Depois desta primeira vez, as noites foram intermináveis até hoje. Passaram a ser de completa busca e procura pela internet, de informações, relatos e depoimentos e as estórias sobre as "baratinhas" e seus felizes proprietários. Resolvi que queria ter uma também.

Conheci pela internet, o Doutor Tanil, Pedro Bergaro, Gilberto Martines, Jean Tosetto, o Alberto e cada dia mais, foram estas pessoas assumidas por mim como meus guias e instrutores. Fiquei impressionado e logo me apaixonei pelas "baratinhas" tão bem cuidadas. Tomei conhecimento dos encontros das terças feiras no Sambódromo, da Estação da Luz e dos passeios.

Doutor Tanil e seu MP LaferO Doutor Tanil, além de zelar por seu MP, registra os eventos em vídeos.

Gilberto Martines e seu MP LaferGilberto Martines é um dos maiores colaboradores do site do MP Lafer.

Pedro Bergaro e seu MP LaferPedro Bergaro é um grande entusiasta e promotor do "Vai Quem Quer".

Disse para mim mesmo, vou ver tudo isto de perto. Busquei todas as informações de como chegar na Estação da Luz, já que não conhecia São Paulo. Imagina só, aos 58 anos e não conhecia "Sampa" de Adoniran e muitos outros ilustres.

Me chamou a atenção no site mplafer.net, um recadinho que dizia: "Força Pacheco". Li a mensagem e isto foi determinante para uma escolha, que estava amadurecendo, a de comprar uma MP e ao mesmo tempo ajudar alguém. O drama era bem maior, do que se poderia imaginar, depois de longos contatos com os familiares do Pacheco.

Fomos para São Paulo, eu e a esposa no dia 05 de dezembro e direto de Congonhas, sem escalas, pegamos um ônibus até Caçapava. Fomos recebidos pela família do agora, amigo Pacheco. Uma visita, que a princípio era comercial, apenas para ver um carro que estava sendo vendido, passou a ser fraternal.

O drama do amigo enfermo, foi "digerido" em longas cinco horas que passamos em sua casa. Pude olhar o carro, mas sinceramente, nem me lembrava bem dele ao retornar para São Paulo no outro dia. Lembrava sim, do Pacheco e sua luta junto com sua esposa Cleuser.

Participei do encontro na Estação da Luz no domingo, dia 06, e me assentei no colo do Papai Noel, e como um menino qualquer fiz meu pedido também. Lembrei dos carrinhos e brinquedos que pedíamos no Natal mas, o coração se lembrou do amigo Pacheco, que talvez não possa mais "brincar" com os seus. Desejei paz e harmonia, luz e saúde a todos, mas principalmente para o amigo enfermo. Voltei às Minas Gerais, minha Belo Horizonte.

No Natal, todos retornam à infância, no que tange à sinceridade dos desejos.

Hoje, quase estou pronto para retornar a São Paulo, e muito mais que investir em um sonho, poder fazer com que os meus recursos sejam bem empregados, trocando de mãos em benefício do meu semelhante também.

"FORÇA PACHECO"

* Ronaldo Diniz Medina é professor em Belo Horizonte, Minas Gerais. Seu relato foi enviado em 16 de dezembro de 2009.

Mensagem complementar remetida em 22 de dezembro de 2009:

Na continuidade de um conto, os combinados, o preparo e a estória dos encontros. Na caminhada, o desconhecido, as dificuldades do percurso e o estudo da trilha a seguir. Algumas marcas, algumas ajudas e a determinação de seguir em frente e chegar. Ao final da estrada o sonho, a realização e o prazer em se ter feito tudo, com dignidade.

Em tudo o agradecimento, aquele muito obrigado àqueles que ajudaram ao longo do caminho. É o reconhecimento da ajuda, de quem sem pensar duas vezes se colocou à frente e disse:

- Amigo, conte comigo!

Pois é amigos, desde agora à tarde, quando finalizei o negócio, também tenho o orgulho de ser um laferista! A minha "baratinha verde", que está sendo guardada com o amigo Pacheco, passará com muito orgulho às minhas mãos em janeiro próximo.

Espero ser digno da posse a ser transmitida, e principalmente angariar novos amigos e novos laços de amizade.

O relato prossegue, em 22 de janeiro de 2010:

Ufá, já estou em casa com a baratinha! Mas foi um sufoco, a começar pelo caos total na Marginal Tietê, quando cheguei em São Paulo. Ficamos esperando dentro do ônibus uma hora e o trânsito parado. Então, resolvi. Desci do ônibus, joguei a mochila nas costas e bati a pé da altura da Vila Maria até o Terminal Tietê. Deu por volta de pelo menos uma hora de caminhada. Taxi? Nem moto passava direito, a não ser por cima de canteiros e passeios.

Nem preciso falar que não saia ônibus nenhum para lugar nenhum, pois eles não conseguiam chegar no terminal de embarque. Começaram a vender passagens somente às 10:45 horas e, para Caçapava, só tinha passagem às 13:00. Peguei então um ônibus para São José dos Campos às 11:25 e chegando lá, outro às 13:15 para Caçapava.

Em Caçapava, além de outras burocracias, a notícia que o amigo Pacheco está bem pior e está internado em São Paulo já vai para mais de 15 dias. O sobrinho e a filha do Pacheco é que fizeram a entrega do carro e finalmente às 16:00 horas comecei a viajem para Belo Horizonte.

Estava esperando gastar umas oito horas, saindo como previsto anteriormente às 14:00 horas de Caçapava, para vir com bastante cautela. Mas, além do que já havia acontecido, não sabia o que me aguardava pela frente.

Meus amigos, nunca vi tanta chuva em minha vida, devo ter ficado parado dentro dos postos de gasolina por mais ou menos umas três horas, além disso os vidros do MP teimavam em não ficar suspensos e o limpador do para-brisa do lado do motorista engasgava na limpeza. Já viu, acabei tomando um bocado de água e estava difícil ver a estrada, o que obrigava a parar nos postos de gasolina até passar a chuva. Os frentistas falaram que já estava assim há mais de três dias na Fernão Dias, o dia literalmente escurecia de repente e virava noite.

Cheguei em casa "no bagaço" e já era de madrugada.
Graças a Deus, vivo.

 
O MP Lafer do Medina, devidamente seco, já em Belo Horizonte.

Em 05 de fevereiro chega a triste notícia:

Acabo de receber a notícia do falecimento do Pacheco. Já havia alguns dias que não tinha notícias sobre sua saúde e enviei um e-mail para a sua esposa. A resposta foi o comunicado de seu falecimento, coincidentemente ocorrido na madrugada do dia 22 de janeiro, na primeira hora,  no mesmo dia em estava chegando a Belo Horizonte depois daquela viajem tumultuada da madrugada.

A Jornada do Natal, iniciada em dezembro, finaliza apenas um de seus capítulos mas não se encerra. Fica a lembrança do amigo enfermo, o carinho e a dedicação da esposa Cleuser e dos familiares. Agora, a minha responsabilidade de cuidar da sua baratinha verde, torná-la mais bonita e reluzente, pois é parte de uma história de dedicação e amor por seu brinquedo favorito.

Sinto que a minha decisão em comprar a baratinha foi um privilégio, pois pude ajudar a família nestes últimos momentos do Pacheco. Agora, posso entender mais ainda os caminhos que Deus traça para cada um de nós. Só espero ser merecedor desta tarefa.

Enviei as minhas condolências a todos da família e aproveito para comunicar o fato a vocês.


FORÇA PACHECO, ONDE QUER QUE ESTEJA!


E, para finalizar, a homenagem no dia 07 de fevereiro:

 
Pacheco e Cleuser, durante o grande encontro do Clube MP Lafer Brasil na cidade de Caçapava, em 2007.

As crianças quando crescidas, viram homens.
Mesmo sendo "grandes" em seus deveres, gostam de brincar.
Além da lida diária, a responsabilidade com a família, retornam ao imaginário infantil.
E com suas baratinhas, tomam-se de prazeres, cuidados e zelo inebriado, percorrem estradas e caminhos, seus infinitos!
Quando partem, suas lembranças ficam marcadas, pois seus "brinquedos" agora ficam nas mãos de outra criança... que volta a brincar.

Ao Arthur, obrigado pelo seu brinquedo!

Grande abraço,
Medina

Veja também:

Galeria 2010: Medina
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