Isso foi há 20 anos

O MP Lafer 1974 entrou para a família em 1997 e motivou a criação deste site em 2001.
O MP Lafer 1974 entrou para a família em 1997 e motivou a criação deste site em 2001.

Em agosto de 2021 o site mplafer.net completa 20 anos de existência, após nascer num portal de sites gratuitos. Lembre como era o mundo naquele tempo.

Por Jean Tosetto

Você se lembra onde estava em agosto de 2001? O que estava fazendo? Em que cidade estava morando? Com o que se preocupava na época? 2001 foi um ano muito aguardado a partir da segunda metade do século 20. Nas ficções científicas da década de 1960, imaginava-se que os seres humanos estariam viajando pelo espaço sideral com certa regularidade e que os computadores seriam inteligentes a ponto de ganharem autonomia em relação aos seus programadores. Pois bem, já se passaram 20 anos desse futuro anunciado.

Em 2001, nosso presidente era o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, encerrando seu seguindo mandato. O metalúrgico, sindicalista e líder da oposição, Luiz Inácio Lula da Silva, despontava como principal candidato na sucessão eleitoral do ano seguinte. Em função da polvorosa política da época, o dólar, que já esteve em paridade com o real em 1994, havia ingressado em 2001 na casa dos R$ 1,90. Em agosto daquele ano já havia batido surpreendentes R$ 2,50 (guarde este número).

Nos Estados Unidos, as Torres Gêmeas do World Trade Center ainda estavam de pé, no coração de Manhattan, assim como o sonho americano, que ainda reluzia na relativa facilidade dos turistas para desembarcarem nos aeroportos, sem serem vistos como terroristas em potencial. George Bush, o filho, era somente o presidente bonachão eleito após uma contagem de votos controversa na Flórida, decisiva para derrotar Al Gore, que seguiu carreira como ambientalista.

Como o brasileiro adora futebol, cabe comentar a respeito da seleção brasileira, até então tetra campeã mundial. Em 2001, porém, o time estava desacreditado, com empates contra times fracos em casa e derrotas para os principais adversários, fora de casa, pelas eliminatória da Copa da Coreia e do Japão, que seria realizada no ano seguinte. Em agosto, no dia 15 (guarde esta data), a equipe do Brasil dava um alento para o torcedor, ao vencer o Paraguai por 2 a 0 no antigo estádio do Grêmio, em Porto Alegre, diante de um público de 48 mil pessoas. 

Sim, havia gente nas arquibancadas, mas as pessoas não faziam selfies durante a partida, por uma razão muito simples: os celulares da época ainda não tiravam fotos - eles apenas faziam chamadas telefônicas e alguns já enviavam mensagens de texto. Porém, pouca gente tinha um aparelho no bolso. A propósito, Nokia e Siemens eram as marcas mais comuns. 

Para tirar fotos, as pessoas ainda usavam câmeras fotográficas convencionais, embora as primeiras câmeras digitais já estivessem disponíveis no mercado, mas ainda eram muito caras. A líder mundial de fabricação de filmes fotográficos era a Kodak. As pessoas compravam rolos com 12, 24 ou 36 poses, e economizavam nos cliques, torcendo para cada foto sair a contento na revelação, quando lojas em Shoppings podiam fazer isso em "apenas" uma hora.

Ainda no quesito das telecomunicações, as cidades brasileiras ainda eram salpicadas de orelhões, como as cabines de telefones públicos eram conhecidas naquele tempo. Detalhe: a primeira patente do orelhão foi registrada pela Lafer (guarde este nome). A novidade de então eram os cartões coloridos que continham créditos para realizar as chamadas, que estavam substituindo as fichas e podiam ser colecionados, assim como as figurinhas de chiclete. Muitos jovens nascidos depois de 2001 ainda usam a expressão "caiu a ficha" sem saber que, quando uma chamada a partir de um orelhão não era completada, a ficha usada caia numa gaveta metálica para ser devolvida ao usuário.

Em agosto de 2001, o mundo ainda convivia com três dos quatro Beatles. Rumores davam conta que George Harrison estava enfrentando um duro tratamento contra o câncer. A ficha ainda não havia caído de que eram seus últimos dias, como eram também os últimos dias do Toninho, prefeito de Campinas que estava incomodando algumas pessoas, e cuja motivação de seu assassinato permanece não esclarecida até hoje.

Mas voltemos aos assunto mais leve da telefonia, que é muito importante para este artigo. As linhas telefônicas fixas eram um artigo de luxo. Embora a privatização do sistema telefônico já estivesse em curso, a fila para poder comprar um número ainda era grande, tanto que empresas alugavam linhas telefônicas e seus detentores tinham que, inclusive, relatar as mesmas nas declarações anuais de imposto de renda.

Pelas linhas telefônicas os brasileiros poderiam acessar uma grande novidade, que prometia mudar o mundo: a Internet. As pessoas moderninhas de então conectavam seus computadores de mesa em aparelhos de telefone a acessavam os primeiros websites da história. Que coisa fantástica era esse tal de e-mail, que substituía os telegramas, as cartas, os cartões postais, os envelopes e os selos (assim como a nossa saliva).

Acessar a Internet era muito caro para a maioria das pessoas, mesmo da classe média. Muitos esperavam dar meia-noite para fazer isso, pois a ligação ficava mais barata e não havia mais contagem de pulsos, pelo menos até o amanhecer. Os primeiros namoros virtuais (e também as primeiras desilusões amorosas reais, em função disso) aconteceram via ICQ. Redes sociais? Ninguém sabia o que era isso nas salas de chat do Yahoo!

O Yahoo!, a propósito, ainda ganhava de goleada do Google, em termos de acessos e receitas. Nos Estados Unidos, onde a Internet já estava bem mais desenvolvida, investidores e especuladores compravam ações de empresas do tipo "pontocom" aos montes. Norte-americanos emprestavam dinheiro nos bancos para comprar ações e revender em seguida. Pessoas comuns estavam ficando milionárias - não da noite para o dia, mas de um mês para o outro. Logicamente, aquela euforia era uma bolha. E a bolha estourou ainda no ano 2000. Em 2001, ninguém queria saber de comprar ações de empresas relacionadas com a Internet.

Em agosto de 2001 você podia comprar uma ação da Amazon por apenas US$ 9,95. Como o dólar estava cotado a R$2,50, bastava ter R$ 24,88 para você se tornar sócio de Jeff Bezos - um lunático sonhador da época, que teve a ideia de vender livros pela Internet, que seriam entregues pelos serviços postaisvejam só. Quem seria doido de colocar dinheiro nisso? Quem imaginaria que Jeff Bezos seria o homem mais rico do mundo 20 anos depois, e que viajaria para o espaço sideral a bordo de uma nave particular?

Quem acreditava na Amazon em agosto de 2001?
Quem acreditava na Amazon em agosto de 2001? (Fonte: Google)

Pois é, aqui entra o MP Lafer nesta história, me levando de carona, reconhecendo que sequer sabia da existência da Amazon em agosto de 2001. As coisas ainda demoravam para chegar no Brasil, onde ainda estávamos deslumbrados com o potencial da Internet. A iG (de internet Gratuita e depois internet Group) estava investindo pesadamente no mercado brasileiro, se apresentando como um provedor de acesso gratuito para Internet, no qual o usuário só pagava pela ligação telefônica. 

O objetivo do iG era ganhar dinheiro com a publicidade vinculada aos seus produtos, dentre eles o sistema hpG (de home page Gratuita), que permitia a qualquer usuário criar e hospedar um site na Internet, desde que permitisse a veiculação de anúncios em meio ao conteúdo produzido.

Então, em agosto de 2001, eu poderia ter vendido meu MP Lafer 1974 por R$ 8.000, considerando que era apenas um carro velho e não um clássico em potencial. Convertendo a venda do conversível em dólares, seriam US$ 3.200 suficientes para comprar 321 ações da Amazon na Bolsa de Valores da Nasdaq. Sabe qual seria o meu patrimônio em agosto de 2021, quando a ação da Amazon atingiu o preço de US$ 3.344,94?

US$ 1.073.725,74.

Considerando o dólar de agosto de 2021 cotado em R$ 5,23, estamos tratando de um montante de R$ 5.615.585,62, conhecidos também como 5,6 milhões de reais. Ao invés de ser dono dessa fortuna, preferi ficar com meu MP Lafer na garagem e criar a página mplafer.hpg.ig.com.br que se tornaria simplesmente mplafer.net em abril de 2002.

A primeira foto do MP Lafer 1974 no jardim da casa, distante poucos metros do escritório onde o site mplafer.net foi gestado.
A primeira foto do MP Lafer 1974 no jardim da casa, distante poucos metros do escritório onde o site mplafer.net foi gestado.

Como o "se" não existe na história, não tenho qualquer arrependimento. Pelo contrário: sou um afortunado graças a tantas coisas boas que este site vem trazendo ao longo dos anos, na forma de amizades de alcance global e na abertura de novas possibilidades que colaboraram decisivamente para eu me tornar quem sou hoje: um eterno sonhador que realizou alguns projetos, dentre eles escrever livros e curtir a vida a bordo dessa máquina de fazer a gente mais feliz.

Neste momento, sé me resta agradecer pelos 20 anos compartilhados com todos aqueles que colocam doses de paixão e entusiasmo em suas decisões. Seguimos acelerando até acabar a gasolina ou até proibirem motores a combustão nas estradas.

Veja também:

A Lafer completa 90 anos de fundação

20º Passeio do MP Lafer - Holambra 2016

Dez vezes Alemanha: Wassenberg 2021

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4 comentários:

  1. Parabens Tosetto, pelos 20 anos do site e por sua contribição ao longo dos anos para a memória do MP Lafer!!! O mundo precisa cada dia mais de "sonhadores" com iniciativa como você!! Abraço!

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    1. Obrigado, Reges! Em 2001 tínhamos muito pouca coisa sobre o MP Lafer na Internet. Lembro que, no começo, comprava revistas antigas em sebos para resgatar reportagens sobre o carro. Aprendemos muito nestes anos todos. Abraço!

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  2. Iracema & Mirek8/8/21 07:21

    Caro amigo Jean, parabéns pela aniversário deste site, que propociona tanta paixão ao redor da máquina que faz a gente feliz, o MP LAFER.

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    1. Queridos Iracema & Mirek, em 2022 o livro do MP Lafer completará 10 anos de estrada. Obrigado por divulgarem esse trabalho na Alemanha e pela alegria que vocês deram para minha mãe no encontro de Wassenberg, quando exibiram o depoimento dela sobre a nossa relação com este pequeno conversível de grandes lembranças. Abraço!

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