Indian 1916 renasce na Argentina

Dois exemplares do modelo Indian 1916 Board Track produzidos na Argentina.
Dois exemplares do modelo Indian 1916 Board Track produzidos na Argentina.

A essência do espírito esportivo é captada na Indian 1916 reproduzida na Argentina quase cem anos depois. O acento único, o escape direto pela base do motor, o guidão rebaixado e o ronco produzido por dois cilindros dispostos em "V" levam o condutor de uma raridade como esta a uma época onde a relação do homem com a máquina era praticamente de interdependência. 

Por Jean Tosetto * com imagens gentilmente cedidas por Carlos Fabian Macinskas

A escolha do Arcebispo de Buenos Aires para ser o novo Papa da Igreja Católica, em março de 2013, direcionou a Argentina ao foco do noticiário internacional. Mas para quem aprecia carros o motos antigas, os argentinos sempre foram renomados colecionadores e construtores de réplicas e recriações de grandes marcas e modelos clássicos, cuja fidelidade conceitual os obrigam a utilizar carrocerias metálicas, ao passo que estas geralmente são feitas de fibra de vidro pelos entusiastas brasileiros.

As caprichosas réplicas argentinas encontram procura entre investidores europeus e norte-americanos, muitos dos quais visitam anualmente a Autoclásica - o principal evento antigomobilista da América Latina - realizado no Hipódromo de San Isidro, na região metropolitana da capital platina. É justamente em San Isidro que a Família Macinskas, com três gerações de envolvimento no motociclismo esportivo, está recriando a mítica Indian 1916, com motor V2 Powerplus de 1.000 cm³.

Os Macinskas - os dois mais altos ao centro - estão envolvidos com o motociclismo esportivo na Argentina há mais de meio século.
Os Macinskas - os dois mais altos ao centro - estão envolvidos com o motociclismo esportivo na Argentina há mais de meio século.

A Indian foi a primeira fabricante de motocicletas nos Estados Unidos, fundada em 1902 por um engenheiro sueco e um empresário americano, em Massachusetts. Já na segunda década do século 20 a Indian tornou-se a maior produtora mundial deste tipo de veículo, mas passou a sofrer crises sucessivas com a quebra da bolsa de Nova Iorque em 1929 e perdeu quase todo o seu nicho de vendas para a rival Harley Davidson, a partir dos anos de 1950. Apenas na virada do século 21 a marca retornou com força ao mercado, por iniciativa de investidores da Califórnia, recolocando na praça os renovados modelos Chief, Scout e Spirit.

Carlos Fabian Macinskas, o responsável pelo projeto da Indian 1916 argentina, valeu-se de desenhos modelados em três dimensões para reproduzir com fidelidade cada componente da quase centenária motocicleta. Na construção própria do motor ele utilizou bielas forjadas da marca Saenz, já os anéis e pistões são fornecidos pela Iapel, companhia igualmente cultuada entre os conhecedores de engenharia mecânica. Os melhores materiais foram aplicados no quadro e demais partes estruturais da moto.

Desenhos modelados com auxílio de computação gráfica garantem a fidelidade ao conceito original da moto.
Desenhos modelados com auxílio de computação gráfica garantem a fidelidade ao conceito original da moto.

Na oficina dos Macinskas em San Isidro, a réplica da Indian 1916 vai ganhando forma.
Na oficina dos Macinskas em San Isidro, a réplica da Indian 1916 vai ganhando forma.

No teste do dinamômetro, realizado no Mototouring de Olivos sob a supervisão de Claudio Pesce, a Indian de Macinskas atingiu 86 quilômetros por hora, a 3.180 rotações por minuto - num total alcançado de 4.000 - aferindo 11 cavalos de força com uma taxa de compressão na razão de 4.8 para 1. Cada cilindro possui 486 cm³ totalizando 972 cm³ no total. Com transmissão fixa, o desempenho da Indian é modesto se comparado com os modelos atuais, mas é fiel a um período onde tais máquinas venciam provas esportivas, inclusive na Ilha de Man, no Reino Unido.

Ouça um pouco do ronco produzido pelas motocicletas do clã Macinskas. 

Os Macinskas aceitam pedidos de encomenda para a fabricação destas motocicletas e pedem um prazo de 90 dias para a entrega, na cor que o comprador desejar, desde que esteja disposto a desembolsar 35 mil dólares para tanto. Eles intencionam comercializar a Indian 1916 também no Brasil e estudam a participação no próximo encontro de veículos antigos em Águas de Lindóia, no interior do estado de São Paulo, para divulgar melhor a motocicleta entre os entusiastas brasileiros. Mais informações sobre a Indian 1916 podem ser obtidas diretamente com Carlos Fabian Macinskas, através de seu perfil no Facebook.

Os últimos ajustes são feitos nas motocicletas, antes da apresentação do projeto em Buenos Aires.
Os últimos ajustes são feitos nas motocicletas, antes da apresentação do projeto em Buenos Aires.

Na oficina dos Macinskas em San Isidro, a réplica da Indian 1916 vai ganhando forma.
No passeio pelas alamedas do charmoso bairro da Recoleta, as Indians dos Macinskas  se comportam como verdadeiras damas.

Carlos Fabian e seu sócio Tomas durante o percurso Recoleta-Tigre em 2012.
Carlos Fabian e seu sócio Tomas durante o percurso Recoleta-Tigre em 2012.
Este vídeo produzido em julho de 2013 conta a história completa deste sonho.


Leia mais textos da coluna "Editor Volante"
* Jean Tosetto é arquiteto desde 1999 e editor do site mplafer.net desde 2001. É também autor do livro “MP Lafer: a recriação de um ícone” - lançado em 2012.

4 comentários:

  1. Estranho é que pareço ser o primeiro a comentar tal façanha,parabéns ermanos,eu já havia pensado na possibilidade de reproduzir componentes das motocicletas orfãs americanas (TOR.SINGER,SEARS...)usando o recurso da impressão 3D disponíveis em algumas escolas industriais aqui da nossa região.Primeiro pelo fato de não ter ninguém a reclamar direitos intelectuais pelo fato de pertencerem a massas falidas ou liquidadas e também pelo tempo de fabricação e projeto já são de domínio público.

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    1. Caro Guto, muita gente visita o nosso site e este artigo inclusive já foi "copiado" em outras páginas. Infelizmente as pessoas só querem comentar através do Facebook, mas essa erva daninha da Internet não entra aqui, não.
      Nossos amigos argentinos tem muita tradição na construção de réplicas fidedignas às máquinas originais. São verdadeiras recriações de alta qualidade.

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    2. Gostei da ``erva daninha´´,é bom saber que eu não estou só nesta corrente contra este flagelo nas relações interpessoais,note que ao ir a qualquer restaurante as pessoas estão lá com seus corpos mas suas mentes estão ABDUZIDAS nesta rede digitando ou enviando frivolidades,emburrecendo e empobrecendo espiritual e socialmente dizendo.Mas sobre as réplicas made Hermanos o sangue latino (predominantemente Espanhol) fala mais alto no que diz respeito a perfeição.

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  2. Boa tarde! Estou lendo bastante para criar uma réplica de uma Indian! Parabéns pelo trabalho! Sou de Curitiba - PR!

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