Campos do Jordão 2011: pegando o longo caminho de volta para casa

Campos do Jordão, na borda do Vale do Paraíba, é um destino atrativo para aqueles que moram na Grande São Paulo e cidades próximas do interior. A maneira mais comum de chegar até esta estância turística é seguindo por rodovias de pistas duplas - Dutra ou Carvalho Pinto - até Taubaté, e de lá por uma perna final de pista simples, inaugurada no fim dos anos 70.

Até então, o acesso para o alto da Serra da Mantiqueira era feito pela SP 50, conhecida como a Estrada da Serra Velha, partindo de São José dos Campos e percorrendo um longo e sinuoso trajeto, tão bonito quanto arriscado, por não contar com manutenção de rotina e também com a infra-estrutura disponível em vias de maior circulação, como postos de combustíveis e locais para descanso e alimentação.

Nem por isso desistimos de experimentar este caminho alternativo. Depois de participar de um inesquecível passeio do Clube MP Lafer Brasil até Campos do Jordão, em abril de 2011, resolvemos nos hospedar na cidade e voltar no dia seguinte, sem pressa, mas com uma curiosidade insaciável, apimentada com uma dose de espírito de aventura. A volta para casa foi por este caminho mais longo. Com vocês, um pouco da Estrada da Serra Velha:

Campos do Jordão é uma cidade romântica, ideal para casais apaixonados passarem o fim de semana num clima ameno, com inspiração européia. O MP Lafer é um carro que combina muito bem com estes ingredientes, mesmo quando estacionado ao relento, na frente da pousada.

Dirigir de capota abaixada pelas ruas e alamedas de Campos do Jordão é muito prazeroso. A estradinha que conduz ao Pico de Itapeva, no município de Pindamonhangaba, é um belo exemplo, com suas hortências acompanhando cercas vivas, sombreadas por pinheiros.

Na hora de ir embora, é até difícil encontrar o início da Estrada da Serra Velha. A sinalização, próxima ao portal, indica apenas a direção para o Sul de Minas Gerais. Atravessa-se a periferia de Campos do Jordão antes de sair do perímetro urbano.

Os primeiros quilômetros da descida da serra são vertiginosos para quem não está ao volante. Dependendo dos raios das curvas, podemos fazer comparações, as vezes com um carrossel, as vezes com um saca-rolhas. Mas o ar fresco e a paisagem compensam.

Neste caso, não é necessário um motor muito potente para fazer o percurso, mas os freios precisam estar rigorosamente confiáveis. Fazer o uso correto do freio a motor também é um predicado requerido ao motorista que ingressa neste tipo de viagem.

A visão de pequenos vales e colinas em seqüência enche os olhos, mas não pode tirar a atenção sobre os trechos da pista que apresentam sérias ondulações - isso quando o asfalto não está perdido para as erosões, que chegam a levar metade do leito carroçável.

Nos pequenos segmentos de retas, as copas das árvores se tocam sobre a linha central da pista, formando túneis de penumbra que deixam o ar ainda mais frio do que normalmente costuma ser na região, durante o outono e inverno.

Numa pequena vila nos arredores de Santo Antônio do Pinhal, temos umas das poucas chances de encontrar um posto de combustíveis, e algum sinal nos telefones celulares. A vida segue bem mais tranqüila nestas localidades.

É interessante notar que, a poucas dezenas de quilômetros de grandes cidades, podemos observar um estilo de vida completamente diferente do nosso. O uso do cavalo não é uma diversão domingueira, mas um recurso ainda predominante num ambiente rural.

A topografia, nesta altura do trajeto, já é um pouco mais suave, permitindo que árvores de maior porte intercalem raios de sol com sombras, cujo ritmo alternado estimula as retinas, que ficam de prontidão. Prazer de poucos sinônimos ao volante.

Subitamente, ao fim de uma curva cega, nos deparamos com uma árvore recém caída interrompendo a passagem - os ramos ainda balançavam. Por pouco não levamos uma galhada nos ombros, que poderia fazer um estrago irremediável.

O jeito foi estacionar o MP no que havia de acostamento, e retirar a madeira seca do meio da pista. Ao fim da operação, uma caminhonete passou triscando as pontas dos galhos. Sem dúvida, um momento de apreensão para nos manter alertas. 

Ao norte de Santo Antonio do Pinhal, ocorre um entroncamento mal resolvido da SP 50 com a estrada que cruza em direção ao Estado de Minas Gerais. A partir dali a SP 50 é denominada "Estrada de Rodagem Monteiro Lobato".

Mãos firmes no volante, lembrando os ponteiros do relógio ao indicar que faltam dez minutos para as duas horas. Andar por caminhos inéditos é prazeroso, mas exige certa experiência na condução, aquela que ajuda a controlar os impulsos da velocidade.

Trafegando por uma espécie de cumeeira da serra, notamos que alguns viadutos estão praticamente abandonados. Em certos trechos, o asfalto está tão esfarelado que lembra o fundo de um pacote de biscoitos de polvilho. Um descuido e você escorrega com as quatro rodas.

Chegamos na cidadezinha de Monteiro Lobato. O MP Lafer, que vinha se comportando muito bem até então, apagou em baixa rotação. A bateria estava exaurida pois o alternador havia pifado. Um policial militar interrompeu o tráfego na rua central e conseguimos fazer o carro pegar no tranco - de ré!

Como naquele domingo não haviam eletricistas trabalhando na cidade, decidimos seguir viagem até São José do Campos, onde certamente conseguiríamos ser socorridos numa eventualidade. Qual seria a graça da viagem se nada acontecesse?

Entre Monteiro Lobato e São José, a estrada começa a ganhar a presença de outros carros. Na região existem muitas chácaras de veraneio, próximas ao Distrito de São Francisco Xavier, de onde parte uma estrada de terra para Joanópolis: boa dica para jipeiros.

Nada no céu indicava que momentos depois cairia uma chuva torrencial em toda a região. Uma espiada no painel indicava que seria necessário abastecer o carro - com o motor ligado para não depender de mecânicos de beira de estrada.

São José dos Campos, finalmente, aparece no horizonte. Originalmente, a SP 50 desembocava diretamente na Rodovia dos Tamoios, que liga o Vale do Paraíba ao litoral norte de São Paulo. Porém, a cidade cresceu e apagou os vestígios desta ligação.

Poucos metros depois e a grande cidade se descortina diante do capô do MP Lafer. Aquele cenário pouco nos lembrava que havíamos transitado por uma das áreas mais esquecidas e estagnadas no tempo, em toda a Região Sudeste do Brasil.

A partir de São José dos Campos, o caminho de volta para casa foi o mais convencional possível, através da Via Dutra até Jacareí, da Rodovia Dom Pedro até Campinas, e de lá até Paulínia. Você deve estar se perguntando se chegamos bem em casa, com o MP Lafer sem bateria. A resposta é: "chegamos". Mas não sem antes passar por mais alguns bocados. Até a pilha da máquina fotográfica acabou esgotada.

Abastecemos o carro em Jacareí. Quando ingressamos na Dom Pedro o céu ficou negro. Caiu uma chuva das mais torrenciais que já testemunhamos, porém, não podíamos estacionar no acostamento, como outros carros, pois o motor não funcionaria mais. Não podíamos sequer ligar o limpador do pára-brisas, para não roubar energia do que interessava: manter os cilindros trabalhando.

Foi emocionante, sem dúvida. Formou-se uma espessa lâmina de água no asfalto, que em atrito com os pneus dianteiros, jorrava a chuva nas bandejas do assoalho. Minha esposa ficou apreensiva, mas mantive a calma quando vislumbrei raios de sol no ponto de fuga da pista. Atravessamos a tormenta, que se transformou em tempestade de granizo, causando vários danos em Guarulhos. Foi um grande alívio quando o céu se abriu novamente para nós.

Quando coloquei os pés na garagem de casa, fiquei me perguntando o que havia feito. Uma viagem que normalmente seria feita em três horas e meia, levou mais de cinco para ser concluída. Ou seja, a aventura serviu apenas como aventura. Não é algo que possamos recomendar como alternativa. Fazer isso de noite? Nem pensar. Valeu a pena? Valeu, com certeza. Tem gente que se aventura pela Patagônia na Argentina, ou pela Rota 66, nos Estados Unidos. Nós nos aventuramos logo ali...

Texto de Jean Tosetto
Fotografias de Renata Tosetto

MPs em Campos do Jordão 2011

4 comentários:

  1. Amigos do mplafer.net, espero que a área para comentários seja usada com urbanidade e que acrescente algo positivo ao site. Vamos acompanhar!

    ResponderExcluir
  2. Parabéns Jean pelo maravilhoso texto e a Renata pelas lindas fotos. Este é mais um dos prazeres que o MP nos proporciona. Poder desfrutar de belas paisagens, estar próximo da natureza e ser protagonista de aventuras inesquecíveis.

    Francisco Paz - Amigos do MP Lafer

    ResponderExcluir
  3. Excelente artigo Jean.
    Uma ótima alternativa de viagem.
    Uma boa idéia para o verão que vem aí.
    Sem pressa, explorando o que os MPs tem de melhor, curtindo a paisagem, o sol, o verde, ao som do motorzinho 1.6 a vento.
    Muito legal voce nos mostrar as belezas da estrada e as "surpresas" que sempre acontecem nessas ocasiões.
    E o mais legal de tudo, é perceber que a Sra. Tosetto já está contaminada pelo virus laferista.
    Romeu.

    ResponderExcluir
  4. Caro Jean,

    Que historias vc teria para contar se não acontecesse absolutamente nada de errado...tenho certeza que vc nunca não vai esquecer desta aventura...vai ter muito que contar para seus netos e toda vez que olhar para o vermelhinho vai lembrar de todas estas aventuras...

    Abraços

    Francisco Franco

    ResponderExcluir

O seu comentário construtivo será bem vindo. Não publicaremos ofensas pessoais ou dirigidas para qualquer entidade. EVITE ESCREVER SOMENTE COM MAIÚSCULAS. Não propague spam. Links e assuntos não relacionados ao tema da postagem serão recusados. Não use termos chulos ou linguagem pejorativa.