MP Lafer: 50 anos

MP Lafer: 50 anos na estrada e contando.
MP Lafer: 50 anos na estrada e contando.

Abril é um mês especial. Em várias nações do Ocidente, até o começo da Renascença, o ano só começava em abril, por causa da Páscoa, comemorada por judeus e cristãos. Abril abria o ano, literalmente. Mesmo que o calendário oficial tenha adotado a virada do ano para janeiro (em referência ao deus romano Janus, cuja cabeça tem duas faces: uma olhando para o futuro e outra apreciando o passado), abril segue sendo um mês promissor para lançamentos importantes.

Para o MP Lafer, o mês de abril é repleto de comemorações. O primeiro passeio do Clube MP Lafer Brasil foi realizado entre São Paulo e Serra Negra, no dia 26 de abril de 1998, há 26 anos. No dia 07 de abril de 2002, há 22 anos, o domínio do site mplafer.net foi registrado. Percival Lafer, criador do MP Lafer, nasceu em 12 de abril de 1936, há 88 anos. Finalmente, no dia 05 de abril de 1974, há meio século, a linha de produção do MP Lafer era inaugurada oficialmente na fábrica de São Bernardo do Campo.

Hoje, dia 05 de abril de 2024, é indubitavelmente um dia para ser celebrado, não apenas pelos proprietários e entusiastas do MP Lafer, mas por todos aqueles que sabem das dores e dos prazeres de empreender e fazer as coisas acontecerem além do campo da trivialidade.

Para marcar a data, tão importante para nós, estamos lançando a versão em inglês do livro do MP Lafer, por enquanto apenas no formato eletrônico: "MP Lafer: The recreation of an icon" já está disponível na plataforma da Amazon, reforçando o caráter internacional deste conversível esportivo com linhas nostálgicas que ganhou o coração de muitos, principalmente pela Europa e América do Norte, e que agora podem conhecer a história da Lafer, fundada em 1927, a responsável pelo projeto do carro, iniciado em 1972 com o primeiro protótipo, e encerrado em 1990, com a entrega do último exemplar.

Clique na capa do livro do MP Lafer em inglês para acessar a loja da Amazon.
Clique na capa do livro do MP Lafer em inglês para acessar a loja da Amazon.

A tradução do livro do MP Lafer para o inglês se baseou na versão impressa em português, de 2012. Optamos por "congelar" a história até aquele ano, para preservar algo mágico que os livros nos oferecem: a sensação de que os personagens neles contidos são eternos. No livro do MP, pessoas queridas ainda estão perto de nós. No livro do MP, as fábricas não fecham. Um dia, não estaremos aqui, mas nossos livros - e nossos carros - poderão seguir adiante, contando um pouco a respeito do nosso tempo.

Aos 50 anos de idade, o MP Lafer, um carro feito de fibra, segue firme e confiável para refletir a capacidade criativa de uma geração marcada por pessoas de grande caráter.

Celebremos!

"Bom dia Laferista,

Hoje o MP Lafer está ficando mais velho. Está completando 50 anos. Como o vinho, está melhor à medida que o tempo passa.

Foi no dia 05 de abril de 1974 que fez seu batismo. Hoje, está mais querido, mais valorizado, mais apreciado, enfim, está mais desejado.

Parabéns para você que possui este ícone da indústria nacional. Parabéns ao Percival Lafer que teve a iniciativa e coragem de construi-lo.

É como eu sempre falo: o MP não é só um veículo, é um 'estado de espírito'. Só quem tem é que sabe disso.

Obrigado por fazer parte desta comunidade."

- Walter Arruda

Se pudesse falar, este MP Lafer 1981 teria ótimas histórias para o nosso deleite.
Se pudesse falar, este MP Lafer 1981 teria ótimas histórias para o nosso deleite.

"Bom dia a todos Laferistas, em primeiro lugar gostaria de parabenizar todos os felizes proprietários de um MP Lafer, esse carro que teve seu lançamento em 1972 e que passou a ser vendido em abril de 1974. Hoje, 05 de abril de 2024, é uma data que comemoramos o Dia Nacional do MP Lafer. Gostaria de parabenizar o amigo Percival Lafer, idealizador desse clássico carro, pelos seus 50 anos de existência, como eu sempre costumo dizer, 'um sonho de muitos e uma realidade para poucos'.

Pessoalmente, tenho o privilégio de desfrutar dessa realidade a mais de 28 anos. Posso afirmar que MP é um brinquedo para gente grande, trazendo sempre alegrias, novos amigos e proporcionando prazeres inesquecíveis. Parabéns para esse cinquentão mais elegante do Brasil."

- Gilberto Martines

"Hoje há 50 anos, um construtor e fabricante de móveis patenteados começou a produzir um carro em série, em sua fábrica de móveis patenteados em São Bernardo do Campo, na grande São Paulo. Parabéns ao Percival Lafer e toda sua equipe por 50 anos do nosso carrinho dos sonhos, a máquina do tempo, o carro que fez e está fazendo muita gente feliz. FELIZ DIA MUNDIAL DO MP LAFER!"

- Miro Dudek

A Brigitte do Romeu: amante consentida.
A Brigitte do Romeu: amante consentida.

"Quem diria que aquele protótipo inspirado em um famoso carro inglês, o MG, e que apareceu no Salão do Automóvel em 1972; dois anos depois, ao iniciar a sua fabricação, se tornasse um ícone da indústria automobilística brasileira. Em 5 de Abril de 1974 foi produzido o primeiro MP Lafer na fábrica em São Bernardo do Campo. Lá se vão 50 anos de puro charme, beleza e exclusividade. 

Para alguns de nós – alguns bem novinhos outros adolescentes – o carrinho cativou à primeira vista. Como todo carro fora de série, tinha um custo de produção elevado, comparado aos carros das grandes montadoras. Então, para a juventude da época, o sonho teria que ser adiado. Na cabeça de muitos de nós o carro ficou marcado, sempre com aquela dúvida: 

- Será que quando eu puder comprar um desse, ele ainda estará sendo produzido?

- Será que vão existir carros em quantidade?

- Será que ‘isso vai pra frente’? 

Só que o carro também era o sonho de um personagem importante na história toda. Percival Lafer, o ‘pai’ do MP Lafer. Uma pessoa idealista, persistente, de muita fibra (ôpa!), atravessou todos os obstáculos, contratempos, dificuldades e produziu o ‘brinquedo’ por mais de 16 anos. 

Continuei a flertar durante muitos anos com o carrinho até que, em 1998, achei que aquela era a hora e comecei a procurar um a venda. Poucos anúncios, poucas ofertas, procura nos poucos encontros de carros antigos. Até que um dia, fui pagar uma conta no centro da cidade e, ao passar por uma rua, tinha uma loja de automóveis: olhei e lá no fundo da loja, um pedaço de uma grade de MP. Entrei, fui me aproximando e realmente estava ali um MP vermelho, empoeirado com os pneus murchos. Pensei: 

- O carro me achou! 

A pessoa que me atendeu disse que o carro era de um cliente que havia deixado o carro para vender, há um bom tempo. O carro não era o perfil da loja e foi cada vez mais empurrado para os fundos. Examinei o que dava para ver no carro, pedi que enchessem os pneus e fizessem o carro ligar, pois estava interessado na compra. 

No dia seguinte voltei para andar no carro, que tinha problemas na caixa de direção, freios, carburação desregulada e outras coisas. Fiz uma oferta e comprei o carro. E aí foi só paixão, recebeu meus cuidados, depois uma restauração na Tony-Car, feita pelo Toninho. Participou de muitos passeios, abriu portas, trouxe muitos, mas muitos amigos mesmo, dentro do grupo de laferistas, assim como no antigomobilismo em geral. Esteve em eventos, exposições, ganhou prêmios, fama e um nome, Brigitte. Eu a considero minha amante consentida (convive razoavelmente bem com minha mulher).

A máquina feita para rodar na estrada, pouco importa a idade.
A máquina feita para rodar na estrada, pouco importa a idade.

Hoje, aproveitando a bela manhã e para comemorar o aniversário de 50 anos do MP, levei a Brigitte para a estrada, dar um passeio, contemplar as paisagens, ao mesmo tempo que ela se exercita, se alimenta, se recarrega, para mais felizes jornadas juntos (observação: ela tem 47 anos e temos um relacionamento que vai completar 26 anos, em agosto). 

VIVA OS 50 ANOS DO MP LAFER! 

VIVA TODOS OS LAFERISTAS DAQUI E DO MUNDO! 

VIVA PERCIVAL LAFER!"

- Romeu Nardini 

"Caro Percival, é dia de celebrar e os seus Laferistas gostariam de lhe agradecer a alegria que o MP Lafer nos traz constantemente. Agradecemos também à sua esposa Branca, que sempre o acompanhou e apoiou em todos os sentidos. Muitas felicidades para ambos e estamos ansiosos por te ver novamente."

- Ludwig Stolz

"Glauco Cabral (17/02/1942 - 04/04/2024)

Eterno amigo. Homem completo. Teve filhos (educadíssimos), plantou árvore e escreveu um livro. Amante incondicional do MP Lafer.

Descanse em Paz, Mestre."

- Francisco Paz

"A vida é para ser vivida, não compreendida."
"A vida é para ser vivida, não compreendida."

"Hoje, pela manhã fui trabalhar e, coincidentemente fui com o MP azul da minha filha. Tenho como hábito mandar um 'bom dia' em alguma foto ou publicação interessante que adquiro das redes sociais. 

Novamente, por coincidência, fiz uma foto do painel do Azulão e enviei para alguns contatos. Passado alguns minutos, recebo uma mensagem do Giba e do Walter, pela comemoração dos 50 anos do lançamento do MP Lafer. Coincidência, destino ou percepção pela data?

Parabenizo o Senhor Percival e todos os envolvidos na realização desse automóvel que se tornou um ícone que trago da minha adolescência na década de 1980 e que hoje, além de ter o meu, compartilho dessa paixão com minha filha Giovana, que também possui o dela.

Parabéns à todos laferistas!"

- Decio Meneguin

"Hoje completa mais um ano do carro brasileiro e mais charmoso do mundo, o MP Lafer!

Moro no Japão e posso dizer que realmente tenho uma conexão muito forte com esse carro, desde criança. Meu pai tinha uma MP Lafer no Brasil e, por destino de Deus, ele colocou um Lafer para eu comprar depois de 30 anos aqui no Japão .

Muitos não vão acreditar, mas a minha vida mudou muito - e pra melhor - com a entrada do carrinho na minha vida. Eu tinha uma magoa muito grande do meu pai (hoje falecido) e com a chegada do carrinho, consegui relembrar as coisas boas da minha infância curar as mágoas que tinha do meu pai.

Além disso, consegui vários e novos amigos ;)

Hoje sou o único restaurador de MP Lafer aqui no Japão e revendedor de pecas :)

Quero deixar aqui registrado meus sinceros agradecimentos às pessoas que me ajudaram na minha história do primeiro MP Lafer: Jean Tosetto, Danilo Machado e Percival Lafer

Observação: hoje o tempo está muito bom aqui em Nagoya, Japão. Vou dar uma volta com o Toninho (meu Lafer) e vou aproveitar e ver as flores de cerejeiras, que estão florando ;)"

- Alex Chopper

"Parabéns MP Lafer!

Completando 50 anos de existência, e ainda com a aparência de um jovem. Durante muitos anos você faz parte da minha vida e na de muitos outros apaixonados por você! Muitas historias, muitos sonhos realizados e muitas alegrias você proporcionou ao longo do tempo.

Com certeza, ainda muitas aventuras você proporcionará aos seus fãs e felizes proprietários. Estaremos juntos por outros muitos anos comemorando sempre a data da sua criação!

Feliz por possuir esse ícone, o MP LAFER."

- Reinaldo Keller

"Vi o primeiro MP Lafer que chegou ao Rio de Janeiro. Era amarelo e estava na vitrine de uma grande autorizada VW, no Flamengo. Confesso que fiquei maravilhado. Juntava gente para ver a belezura.

Anos mais tarde, vi um modelo 77 totalmente original, na garagem de um estúdio de música que frequentava em Botafogo. Um dia, perguntei ao porteiro se o proprietário venderia e a resposta foi um sonoro NÃO. O tempo foi passando e numa de minhas idas e vindas, o porteiro me disse que o carro estava à venda. Entrei no carro e senti o cheiro do Morris Minor conversível que meu pai teve na minha infância. Não resisti, fiz uma oferta e comprei.

A Internet ainda era incipiente no Brasil mas fiz uma página com umas poucas fotos de José Caldas no mirante Dona Marta. A resposta foi surpreendente. Muitos e muitos e-mails de várias partes do mundo! Publiquei o Manual de Proprietário, o Catálogo de Peças que recebi do Canadá e mais tarde, o Manual em inglês enviado pelo Élcio de Cabo Frio.

Registrei o domínio www.mplafer.com , comprei um escâner e comecei a publicar as fotos que recebia pelo correio. Num certo momento, precisei de lanternas traseiras, encontrei a Ivone e depois o Toninho com quem tive um bom relacionamento e pela Internet, enchi a sua oficina de São Bernardo. Toninho nunca me cobrou por nada e sou muito grato a ele.

Daí, conheci o Walter e entrei para o Clube que um dia até me homenageou com uma linda placa que guardo com carinho. São muitas e muitas as histórias. Conheci muita gente e rodei muito com meu querido MP Lafer 77. Assim, conheci o Jean Tosetto. Vi que tinha amor pela marca e competência para publicar com maestria a história do carrinho. Acabei pendurando as chuteiras, vendi meu carro para ele, tirei o time de campo e através do Miroslaw, hospedei o site, hoje vintage, na Alemanha. 

Parabenizo o Percival pela grande sacada e pelo incrível trabalho que ficou marcado para sempre na história da indústria automobilística brasileira. 50 anos se passaram e a história do MP Lafer jamais irá passar. Tudo isso ficará nos corações dos proprietários que preservam o grande feito de Percival Lafer. Parabéns a todos! A eternidade não é para qualquer um."

- João Saboia

"Sou do ano do Tri (1970), e mal sabia que quatro anos depois, Percival Lafer já iniciaria a produção em serie de um carro que teria tanto significado em nossas vidas. Aos 14, aprendi a dirigir num MP Lafer cinza com para-lamas pretos de meu tio que o levava em todas os encontros de família aos domingos e atraia a atenção de todos, afinal de contas, conversíveis não eram tão comuns, ainda mais com aquele estilo todo…

O tempo passou e me formei, casei, tive três filhos, mas a vontade de ter aquele carrinho para passear de final de semana continuava viva em mim.  Há dois anos resolvi adquirir um MP Lafer e tive a sorte de conhecer o Walter, Jean, Paulo, entre outros e fazer parte de um grupo seleto que divide informações que muito me ajudaram a reformar meu MP amarelo Sunflower ano 1976 série B. 

Tive também o prazer de me encontrar com o Percival Lafer, apreciar suas historias e poder receber sua assinatura no porta-luvas do MP, engrandecendo ainda mais esse belo exemplar que tanto me faz feliz e a meus filhos que comigo curtem os passeios de domingo.

Portanto ter a oportunidade de guiar um MP Lafer é, de fato, um privilégio destinado a poucos e quero aqui deixar meu fraterno agradecimento ao Percival por nos brindar com essa tamanha sacada. Um abraço a todos os Laferistas nesse 05.04.2024."

- Andre I. Costa

"Eu apenas queria um conversível clássico com uma mecânica que eu pudesse dar conta sozinho e desse para viajar. Foi com essa premissa que comecei a procurar pelo meu próximo carro clássico.

Danilo Machado em seu MP Lafer restaurado por ele mesmo.
Danilo Machado em seu MP Lafer restaurado por ele mesmo.

Já possuidor de um Fusca 1973 que restaurei da ruína à placa preta, no qual fiz, sozinho, toda parte que não fosse funilaria (motor, elétrica, suspensão), eu tinha um desejo de ter alguma coisa que despenteasse meu cabelo em viagens mais longas. Até fui bastante tolerante com a idade do carro, poderia ser até algo dos anos 90, incluindo os lindos Escort XR3 e Kadett Bertone. Mas, como todo apaixonado por ferrugem, quanto mais antigo (e raro) melhor. Lista de exigências até simples: clássico, mecânica simples que eu pudesse fazer sozinho, bom de estrada e, mantendo uma âncora na realidade, que minha gerente do banco não me mandasse pro sanatório. 

Meu sonho quase saiu do papel com um Puma GTS 1978 que via abandonado da janela do meu quarto por longos 16anos. Quando o dono resolveu vender, seu pai faleceu e ele resolveu mantê-lo como recordação. Assumo que o MP Lafer não estava em destaque na minha lista, ele é um clássico de linhas realmente cativantes, mecânica VW que eu faço de olhos fechados, normalmente elogiado pelo conforto (nunca tinha entrado em um antes, famoso 'ouvi dizer'), mas o preço do carro era muito fora do que o SPC e o SERASA me deixariam dormir em paz.

Financiando imóveis e com a carteira vazia a ponto de fazer eco, posterguei a ideia por um tempo até que, do nada, naqueles grupos de vendas de carros clássicos que você só entra pra ficar na vontade, me aparece um MP Lafer 1981/82 muito bonitinho (faltava um dono) pelo preço que eu estava disposto a pagar pelo Puma (basicamente um terço do valor de mercado de um MP daqueles). Pra me sentir um negociador, ainda fiz uma contraproposta e acabei fechando negócio. Conseguir um MP razoável a preço de Puma abandonado. Era bom demais pra ser verdade. E FOI.

Carro de inventário, foram muitos meses até conseguir fechar a papelada para passar pro meu nome. De março até outubro não foi lá muito fácil para um ansioso esperar até que, na sexta-feira 13 (dia propício pra negócios) de outubro de 2017, fui com meu pai pra Niterói (Rio de Janeiro) buscar um carro muito bem cuidado, que estava em plenas condições de voltar rodando pra São Paulo (aproximadamente 500km) tranquilamente. SÓ QUE NÃO.

O carro era uma desgraça de linhas clássicas. Ser enganado não é divertido, comprar por fotos, burrice, mas se não tiver 'visão além do alcance' você pode desanimar sem ver uma joia em potencial. As fotos que tinha visto eram de uma década atrás, antes do carro ser destruído pelo tempo, falta de manutenção, morte do proprietário e total descuido do caseiro que usava o carro sem o mínimo de zelo. Pessoalmente, o carro não era nada daquilo. A cor era desconhecida, debaixo de sujeira incrustada em anos de descuido, quatro pneus furados, elétrica basicamente toda em curto ou não funcional, vazamento generalizado de combustível, freio apenas em uma das rodas, capota rasgando, tapeçaria ruim, madeiramento podre... Uma belezura.

Meu pai estava certamente pensando em internar o filho que estava dando uma bela quantidade de suado dinheiro naquela... coisa. Mas, nas minhas palavras 'tá tudo um lixo mas tá tudo aí'. O fato é que o carro era uma porcaria, mas todos os itens e acessórios estavam lá, originais, só faltava restaurá-los, coisa que sei fazer e tenho coragem (ou loucura) suficiente pra encarar.

Condicionei a compra ao motor funcionar. Motor de Brasília, recém retificado, pegaria de primeira, certo? Então... Após quase uma hora fazendo milagres, aquela coisa ligou. Niterói não deve ter tido focos de dengue por um bom tempo depois daquilo. Carburadores destruídos, mangueiras ressecadas, mancha de óleo sob o carro e nenhum ponteiro no painel funcionando pra monitorar se aquilo iria explodir. Não vou me prolongar, só a história do resgate do carro daria um BLOG à parte. Fechei negócio, e irresponsabilidades à parte, voltei guiando aquela bomba até São Paulo. Eu não sabia da maior parte dos defeitos até então (ignorância é uma benção). Só fiz a loucura de comprar porque era um carro completo, original e o preço atraia até o mais irresponsável dos colecionadores.

De mecânica VW posso me gabar do meu conhecimento, elétrica automotiva é tranquila também, tapeçaria não sou dos melhores, mas até faço coisinhas pontuais, faltava aprender marcenaria e encarar o desafio. Novamente, um dia conto as peripécias da restauração, não pretendo transformar um depoimento em uma série tragicômica. Sozinho, na cara e coragem, parafuso por parafuso, fui desmontando esse carro e restaurando peça por peça. Pude notar a qualidade do carro. Apesar da trágica conservação, o fato da grande qualidade construtiva fez com que ele aguentasse tempo suficiente até ser resgatado. A esmagadora maioria dos carros fora-de-série (e até os plastimóveis atuais) não aguentaria metade dos maus tratos que este aguentou.

Danilo colocando a mão na graxa, literalmente.
Danilo colocando a mão na graxa, literalmente.

Longos meses fazendo o carro pouco a pouco, todo fim de semana um pouco mais. Quem gosta de restaurar - e se dedica - sabe que a restauração nunca acaba. Você sempre quer melhorar seu tesouro. Mas, depois de três anos pesados, consegui realizar o sonho do conversível. Mecânica completamente retificada, câmbio longo pra estrada, motor com atualizações de comando, consegui ter um lindo MP estradeiro de verdade e mantendo a originalidade que me resultou em um novo clássico 'da ruína à placa preta'. Carro de conforto ímpar, extremamente confiável, gostoso de pegar estrada e que chama mais atenção que incêndio em loja de fogos de artifício. E tudo com o orgulho de ter encarado isso sozinho. Viagens de 8 a 12 horas são muito prazerosas e as faço com constância e orgulho.

Mas não é só o lado material que importa em um carro clássico, não é mesmo? Quem não tem contatos, quem não tem amigos, dificilmente vai muito longe em uma restauração. Primeiro fui muito bem recebido pelos membros do Clube MP Lafer do Brasil, ainda por e-mail, quando tentava entender como descobrir se um MP é falso ou não (sim, tem muitos falsos rodando por aí); o Walter, Romeu e Jean foram muito importantes nesse quesito. Depois, compartilhando meus perrengues na restauração, participei do almoço de fim de ano do clube em 2017, ainda com o carro semi-desmontado (amarrar velocímetro com fita crepe não é lá muito usual, mas funciona), e fui agraciado com uma inesperada homenagem com direito a um discurso meu improvisado e uma camisa do clube. A coisa foi aumentando, almoços e viagens do clube foram passando e faço parte de uma verdadeira família de loucos pela baratinha. É sempre um prazer poder reencontrar amigos, sempre que possível. 

Como fiz o carro na marra, acabei adquirindo conhecimentos razoáveis específicos deste veículo e acabei entrando em contato com pessoas não só desse Brasil afora, mas de outros países. Fico feliz de ter ajudado pessoas de todo canto do mundo a recuperar seus MPs: Canada, EUA, Itália e até do Japão. Ver a felicidade de um amigo, na Terra do Sol Nascente, colocando um MP pra rodar que eu sei que é importante pra ele, é recompensador demais. Compartilhar informações sem pedir em troca, não quero lucrar com a dificuldade alheia. 

Mas toda história tem uma cereja do bolo (gostamos de finais felizes). Restaurar o MP me fez apreciar o projeto. Amo carros, não importa se é um carrinho popular, kart, ou um superesportivo. Tenho a mesma admiração por um Trabant ou um Mercedes: é a tecnologia que me fascina, da mais básica (com soluções engenhosas) à mais avançada (e a revolução que carrega). Conhecer as entranhas da baratinha me fez admirar o carro, poder curtir o carro me trouxe a felicidade que só um Gear Head entende e, por fim, conhecer o responsável por tudo aquilo foi o ápice disso tudo.

Danilo Machado e Percival Lafer em Santana do Parnaíba.
Danilo Machado e Percival Lafer em Santana do Parnaíba.

Como eu sabia que o Senhor Percival Lafer, criador dessa criatura, costumava aparecer nos encontros do clube, como todo fã preparado, andava com uma plaqueta de cobre, uma caneta especial e o manual do carro, prontos, esperando pelo autógrafo. Consegui essa façanha em 1º de dezembro de 2018, em um almoço de fim de ano. Carrego esse autógrafo não só no manual, mas, com extremo orgulho, também na tampa do porta-luvas, em uma placa de cobre, que vai durar, espero, mais que o carro. O WhatsApp ganha notoriedade também: hoje faço parte do grupo dedicado ao veículo e posso ajudar, sempre que possível, mais e mais proprietários e, inclusive, trocar umas palavras com o Senhor Lafer. 

Resumo da história é que 'caí pra cima'. Era para ter um Puma, acabei sendo enganado em uma sucata, mas acabei conseguindo ter um carro que era muita areia pro meu caminhãozinho (e pro limite de crédito da minha conta). O carro, hoje, é um baita exemplar, saiu infinitamente mais barato que custaria por um restaurado e tenho um carro do qual me orgulho, não querendo menosprezar, mas muito superior que o Puma que teria comprado com o mesmo valor. E o melhor de tudo: carregado de amigos e boas histórias no porta-malas. Vai dizer que não é um final feliz? 

Tenho orgulho de ser um pedacinho nessa história dos 50 anos do MP Lafer. Parabéns a todos nós e ao criador, Sr. Percival Lafer. 

Abraço de um Laferista."

- Danilo Machado

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