Em memória de um campeão


Estudei em escola pública até a sétima série. Em 1990, quando fiz 14 anos, meu pai me transferiu para um colégio particular. Foi um ano difícil. Eu, que sempre fui um dos melhores da classe, passei dificuldades para não repetir a oitava série.

Naquele colégio tinha uma marcenaria, que frequentava antes das aulas de educação física no período da tarde, pois não dava tempo de voltar para casa. Um dia peguei uns retalhos de madeira e tentei fazer dois carrinhos de Fórmula 1: a Benetton do Nelson Piquet e a McLaren do Ayrton Senna.

Ao contrário da maioria, eu ainda torcia mais pelo Piquet, mas o carro dele ficou inacabado - era muito difícil copiar a pintura de seu bólido super colorido. O carro do Senna parecia um maço de cigarros e quem lembra da época saberá que o bico da minha miniatura foi premonitório, pois só ficou parecido com o carro de verdade umas duas temporadas depois.

Sempre gostei muito de corridas, mas as vezes elas coincidiam com o horário do culto religioso. As vezes eu pedia para ficar em casa vendo a corrida pela TV. As vezes dava tempo de ver a largada e ir para a igreja torcendo para algum brasileiro ganhar o grande prêmio.

Há vinte anos eu já não era mais uma criança, mas continuava empolgado com as corridas na TV. Essa paixão acompanha você para sempre. Naquele primeiro de maio de 1994 assisti o Senna morrer "ao vivo", na minha frente. Como esquecer aquele acidente?

Lembro de ter visto o Senna mexer a cabeça logo depois da pancada na curva Tamburello em Ímola, na Itália. Era a falsa impressão de que logo ele levantaria do cockpit. Na verdade era seu último suspiro.

Fui para a igreja logo em seguida. O clima era de velório. No começo da tarde veio a confirmação: Senna estava morto. Morto? Morto. Quando alguém morre não tem volta e é muito difícil lidar com isso. É algo que a gente não aprende pois não se conforma.

Além da fé que carrego, também uso esse inconformismo como energia para fazer as coisas que são necessárias, pois cada dia que amanhece é mais do que um presente, é uma oportunidade para fazermos algo de bom.

Nas pistas Senna era muito bom. Era o melhor.

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