Para Revista Trip, MP Lafer é "desgovernado"

A Trip Editora está no mercado editorial desde 1986. Um de seus principais produtos é a Revista Trip, direcionada para um público masculino na casa dos 16 aos 39 anos, que ela considera como "formadores de opinião". Não duvidamos da qualidade dos prêmios que a publicação conquistou em quase um quarto de século, como as três medalhas do New York Art Directors Club. A própria durabilidade do periódico é uma amostra de sua relevância no cenário nacional.

É justamente por isso que ficamos muito desapontados com a matéria sobre o MP Lafer, da edição de número 199, de maio de 2011. Em quase dez anos editando o site mplafer.net, nunca vimos tanta deselegância de um veículo de mídia impressa com relação ao modelo, concentrada em poucas linhas. Usamos o termo "deselegância" que talvez seja mais adequado do que o termo "cretinice", que reconhecemos ser muito pesado.

Como podemos definir alguém que usa o título "DESGOVERNADO" num artigo sobre o MP Lafer? No mínimo podemos esperar que foi um jornalista especializado em automóveis, que ao menos tenha dirigido um MP Lafer para se referir ao carro deste modo. Infelizmente não é o caso do jornalista Luiz Guedes Junior. Para escrever seu texto, ele entrevistou Romeu Nardini, diretor do Clube MP Lafer Brasil, por telefone. Isso mesmo: por telefone.

Vamos ao lead da matéria, que no jargão jornalístico é um conjunto de poucas frases que definem o teor da reportagem: "O famoso calhambeque tem seu peso mal distribuído, o que dificulta o comando do motorista" - nós perguntamos: com quantos motoristas ele conversou para certificar-se de que o MP Lafer é de difícil comando? Será que está é a opinião dos mais de 500 laferistas membros do Clube MP Lafer Brasil?

Vejam que pérola, no primeiro parágrafo: "'Olha, um calhambeque!' A frase já foi escutada por todo proprietário de MP Lafer. E revela o quanto o modelo nacional permanece incógnito no trânsito." Curioso, não? No lead é o famoso calhambeque, já no texto o MP permanece incógnito no trânsito. Deveríamos questionar o fotógrafo da ocasião (Sergio Flores, que andou de carona com Romeu Nardini, para captar mais de cem fotos do carro para a revista) se no trajeto da Avenida Paulista para o Ibirapuera o carro não chamou um mínimo de atenção.

O texto prossegue: "O mais curioso é que seu projeto não partiu de nenhum empresário ligado ao universo automobilístico. Pelo contrário. Seu idealizador, Percival Lafer, tinha a seu favor apenas o fato de dominar a técnica de modelagem em fibra de vidro, composto sintético utilizado por ele na construção de mobiliários – incluindo seu maior sucesso, a criação dos orelhões para as empresas de telefonia na década de 60."

Parece que o jornalista da Revista Trip nunca ouviu falar de Percival Lafer, e da empresa Lafer, como um todo. Talvez Percival já tenha mais de 39 anos e não seja mais um "formador de opinião". O jornalista desconsidera que Percival Lafer é um designer de reconhecimento internacional, tendo projetado móveis de desenho refinado que são referências entre europeus e norte-americanos. O acabamento interno do MP Lafer era tão superior ao dos outros carros de seu segmento, que foi um dos motivos do sucesso das vendas para o exterior. Bom, será que a Revista Trip é lida no exterior?

Romeu Nardini guia o MP Lafer da direita, durante uma "trip" para Campos do Jordão, em foto de Renata Tosetto.

Nos quarenta minutos em que Romeu Nardini conversou com o jornalista da Trip, ele falou sobre o eventos do Clube do MP, dos passeios, das peças de reposição, das restaurações e de toda a paixão que o carro desperta nos seus entusiastas. Mas a matéria não mencionou nada disso. Reproduziu apenas algumas frases isoladas, justamente as que serviram para dar algum embasamento à tese de que o MP Lafer tem uma distribuição desigual de peso.

Realmente, pelo fato do motor e os bancos dos passageiros estarem na porção traseira do chassi do MP, a concentração do peso fica sobre o eixo motriz, deixando a dianteira mais leve. A diferença de peso é acentuada conforme o consumo de gasolina vai esvaziando o tanque do veículo, que fica na parte dianteira. Mas daí para afirmar que isto "dificulta bastante o controle de quem está ao volante" do MP Lafer, há uma distância enorme. Afirmamos isto baseado em nossa própria experiência: guiamos um MP Lafer 1974, quase diariamente, desde 1997. Em 14 anos de estrada, felizmente, nunca nos envolvemos em qualquer incidente relacionado à dificuldade de controle do veículo.

Vamos propor um desafio ao jornalista Luiz Guedes Junior: venha dirigir nosso carro! Traga o editor da sua revista. Traga outro jornalista ou quem sabe algum anunciante que ajude a manter a publicação nas bancas. Nós convidaremos mais três especialistas. Se todos, após dirigirem o MP, afirmarem que o carro é "desgovernado", nós encerramos nossas atividades com o site mplafer.net - Quem quiser ler a matéria completa da Trip e deixar seu comentário por lá, basta clicar aqui (observação: a reportagem teve o título e parte de seu teor alterado).

Não queremos que o MP Lafer seja apenas elogiado em qualquer tipo de mídia. Aceitamos as críticas e as observações pertinentes. Somos os primeiros a conhecer todas as deficiências do modelo - podem apostar seus botões nisso. O que nós queremos é apenas que os jornalistas façam seu trabalho de forma honesta, e que não abusem da boa vontade de gente como Romeu Nardini, a quem conhecemos e admiramos por sua generosidade e atenção com todos. Afinal de contas, nosso amigo foi tachado de imprudente, já que ele guia um MP desgovernado...

Por Jean Tosetto

Reverberações:

"Não poderia deixar de registrar minha indignação com a reportagem da edição 199 desta revista, sobre o MP Lafer. Em primeiro lugar, quando se propõe fazer uma reportagem, tomando tempo de uma pessoa, no caso nosso Diretor de Eventos, Romeu Macedo Nardini, jamais seria para denegrir a imagem do alvo da reportagem, o que de fato foi feito.

A reportagem destacou e valorizou demais somente um aspecto discutível do MP Lafer, que seria sua estabilidade. É evidente que os profissionais desta revista não testaram o carro, como faz uma revista especializada em carros. Se o fizessem, teriam outra noção de como é prazeroso dirigí-lo. Da forma em que foi enfocada a reportagem, dá nítida impressão ao leitor que é um suicídio dirigir um MP Lafer. O MP Lafer foi concebido em cima de uma plataforma do Fusca, e o tal desequilíbrio de peso alegado, somente é notado se levarmos ao extremo sua velocidade, o que não condiz com um carro charmoso que é. Quando ele foi concebido, nunca teve-se a intenção de fabricar um esportivo "puro sangue".

Sua aceitação foi tão grande que das 4.300 unidades fabricadas, 1.500 foram exportadas para os 5 continentes, e circulam em países muito exigentes em termos de segurança como EUA e Europa. Seu alto valor de mercado explica suas qualidades, o que pode ser demonstrado nos próprios anúncios da reportagem. Um deles é anunciado por R$ 60 mil. Finalmente, convido-o a acessar nosso site para se inteirar de nossas atividades nesses 14 anos de existência de nosso Clube."

Walter Arruda
Presidente do Clube MP Lafer Brasil

"O que aconteceu na redação da "Trip" ao liberar uma matéria sobre o clássico MP Lafer (motivo de orgulho para centenas de admiradores e colecionadores - no Brasil, Europa e EUA), este que foi o veículo que marcou para sempre a história da indústria automobilística nacional de carros especiais, com o jocoso título: "DESGOVERNADO"?

É triste constatar que uma revista do porte da "Trip" tenha sido tão imprudente ao ponto de sugerir que um carro como o MP Lafer "é é famoso pela má distribuição de peso o que dificulta bastante o comando de quem está ao volante" - ou: "o modelo nacional permanece incógnito no trânsito" - ou ainda: "o pequeno conversível alcançou relativo sucesso" - Opa! Vocês tem certeza que estão falando do MP Lafer? Só por estas três frases, parece que não...

Não culpo o jornalista Luiz Guedes Junior (que não deve ter a idade que tem o meu MP Lafer 1978) mas, a responsabilidade desta redação ao publicar tamanha disparidade entre o que é real e o que foi a interpretação do jornalista em 'contato telefônico' com uma das pessoas que mais entende de MP Lafer no Brasil e no exterior: o Senhor Romeu Nardini. Isso fica evidente no que foi publicado. Tenho absoluta certeza que o Senhor. Nardini foi extremamente cordial e amável com o jornalista ao telefone. Esta é a natureza dele.

Também tenho certeza que o Senhor Nardini forneceu pacientemente dezenas de informações importantes e relevantes sobre a história do carro, origem, trajetória, restauração, encontros e feiras de antigomobilismo, onde o MP Lafer sempre é destaque como orgulho da indústria automobilística nacional. Depois de todo este trabalho, qual foi o resultado impresso? "DESGOVERNADO". Belo lide! Só uma redação completamente "desgovernada" para liberá-lo sem medir as conseqüências.

O mínimo que esta redação poderia fazer no futuro próximo é fornecer o mesmo espaço que foi utilizado para denegrir a imagem do veículo (seus proprietários e colecionadores), para uma matéria séria e embasada, mesmo que, ao que parece, não seja esta a proposta da revista na abordagem e temas de interesse ou entretenimento público."

Ivan Freitas
Proprietário de MP Lafer

"Antes de mais nada, peço sinceras desculpas em nome da revista por qualquer mal entendido. Incomodar os proprietários e colecionadores do MP Lafer não era, em absoluto, é claro, a nossa intenção.

Em respeito às considerações de vocês sobre nossa reportagem, acabamos de alterar a matéria no site, e vamos publicar suas considerações na próxima edição."

Lino Bocchini
Redator-chefe da revista Trip

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