De noite ou de dia: o Vigilante Rodoviário

A figura do herói sempre foi importante na cultura ocidental. Na Grécia antiga, os heróis eram personagens mitológicos que realizavam grandes façanhas, cujas sagas compreendiam aventuras que normalmente descreviam o protagonista deixando seu lar, para posteriormente retornar em glória e servir de referência para os demais. Aos heróis costumava-se atribuir também, o fato de comumente sacrificarem alguns aspectos de suas vidas, em função de nobres ideais a serem perseguidos.

Os séculos passaram e as sociedades modernas continuam dependendo dos heróis. Mas as condições para se tornar um parecem ter mudado radicalmente. Hoje em dia basta aparecer num reality show da televisão para ser tachado de herói. A mídia eventualmente adora fabricá-los, enaltecendo realizações esportivas e artísticas. Profissionais de marketing cientificamente moldam uma áurea semelhante em políticos populistas. Infelizmente há também os heróis de fato e esquecidos: trabalhadores e donas de casa que educam seus filhos em tempos contemporâneos.

Estes, quando vão ao cinema, esquecem um pouco das questões cotidianas ao verem, nas telas, filmes estrangeiros repletos de cenas épicas de ação, com os chamados super-heróis, vestidos em colantes coloridos e capas tremulantes ao vento. Nesta hora, poucos jovens se lembrarão que o Brasil também tem os seus heróis. Mas certamente quem tem um pouco de história para contar citará o primeiro da televisão brasileira: o Vigilante Rodoviário.

Carlos Miranda em seu cartão de apresentação, autografado para o site do MP.

Ele não dispunha de super poderes e tão pouco contava com regalias tecnológicas de última geração, a não ser o veículo Simca Chambord 1959, mas teve a honra de se firmar nos primórdios das produções de seriados nacionais, que no começo dos anos 60 estavam apenas vislumbrando o seu potencial comunicativo. Porém, o que tornou o Vigilante Rodoviário digno de ser considerado um herói, foi o fato de seu alter ego, o ator Carlos Miranda, ter se convertido num patrulheiro de verdade, como ele mesmo relata em seu cartão de apresentação:

“Em 1961 o Brasil foi supreendido com o lançamento da primeira série de filmes produzida especialmente para a televisão, pioneira em toda a América Latina. Ari Fernandes e Alfredo Palácios foram os idealizadores. A eles se juntou um jovem ator oriundo do Teatro Popular do Sesi, escolhido para personificar o primeiro herói de filmes para TV. O programa surpreendeu a todos e já na primeira semana tornou-se a maior audiência em todo o país. Esse herói teve também o mérito de ser o primeiro ator a tornar-se verdadeiramente o personagem e ingressar no prestigiado Guiness Book. Sua carreira na Policia Militar foi marcada pela colaboração nos mais diversos eventos dirigidos às crianças, na elaboração dos programas de aproximação da população com as atividades da corporação, com a Semana da Criança, dos programas na TV Excelsior e na TV Bandeirantes, do primeiro laboratório de fotografia, de cinema e da primeira revista dirigida a estudantes do primeiro e segundo graus. Após sua passagem para a reserva, o Vigilante Rodoviário continua sua trajetória em quase todas as cidades brasileiras, levando a universidades, escolas e encontros de carros antigos, o trabalho que a Policia Militar desenvolve em prol da população.”

Foi exatamente num destes encontros, realizado na cidade paulista de Holambra em novembro de 2006, que tivemos o contato pessoal com Carlos Miranda. Os quarenta e cinco anos passados desde sua estréia na TV não roubaram a sua compleição atlética e o carisma autêntico das pessoas destinadas a brilhar. Ele mesmo veio guiando o velho Simca da cidade onde reside atualmente, Águas da Prata, e foi muito atencioso com todos que o cercavam.

Com a Harley-Davidson 1952 e o cão Lobo na TV Tupi: outubro de 1961.

Seu aperto de mão caloroso transmite a confiança que devemos ter nas pessoas que patrulham nossas rodovias. E já que estamos tratando de um herói, cuja função é servir de referência positiva aos mais jovens, não custa nada buscarmos inspiração nele, sempre que estivermos ao volante de um carro, dirigindo por uma estrada. Nas viagens rodoviárias, se formos vigilantes na direção, poderemos voltar para casa com segurança. Talvez sem a alcunha de herói perante nossos amigos e familiares, mas certamente um pouco melhores do que quando partimos.

Por Jean Tosetto

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