Interlagos recebe o MP Lafer na Super Classic

Romeu Nardini, diretor do Clube MP Lafer Brasil, é também um apaixonado por automobilismo e sempre que pode acompanha as etapas do Campeonato Paulista, disputadas no mítico circuito de Interlagos, especialmente as provas da categoria Super Classic. Recebemos o texto e as fotos deste artigo em 18 de agosto de 2006 - acompanhe:


No ultimo domingo - 12 de agosto - o MP Lafer fez a sua estréia no Autódromo de Interlagos em São Paulo, por ocasião da 8ª etapa do Campeonato Paulista de Automobilismo. A prova na categoria Super Classic contou pela primeira vez com um representante da nossa conhecida paixão: um vistoso MP Lafer amarelo portando o número 2.

A categoria Super Classic é atualmente a grande coqueluche do automobilismo paulista. Lá estão alguns dos representantes do início da indústria automobilística brasileira, junto com alguns protótipos e carreteras. Podemos ver juntos alguns Fiat 147, Fuscas, DKW, Porsche Spider, Pumas, JK, Corcel, VW 1.600 - Zé do Caixão, Miura, Bianco, e até uma carretera Fiat Topolino com um potente motor AP.


Nosso valoroso MP participou da prova, mostrando ainda que necessita de alguns acertos e regulagens, que com o tempo certamente irão melhorá-lo ainda mais. Acabou se classificando no meio do pelotão, conseguiu concluir a prova e foi muito assediado pelos que lá estavam, pois é uma novidade nos autódromos e despertou a simpatia de muitos, como sempre.

O piloto Zé Maria, que fez grandes alterações na carroceria do simpático carrinho, visando melhorar sua aerodinâmica, e seu desempenho nas pistas, demonstrou estar bem familiarizado com o carro, tirando dele o máximo rendimento possível, levando-se em consideração que estava fazendo a sua estréia na categoria.


No próximo dia 2 de setembro, esperamos vê-lo novamente em ação na 9ª etapa do campeonato, quem sabe já com um bom desempenho. Quem gosta de corridas e quiser ver de perto um MP “bravo”, não pode deixar de comparecer ao Autódromo de Interlagos, garanto que vai se divertir muito.

UM SÁBADO PARA RECORDAR

Jean Tosetto, editor do site mplafer.net, aceitou o convite do Romeu Nardini e colocou seu MP Lafer vermelho na estrada, para ver de perto as disputas do Autódromo de Interlagos. Segue o texto em primeira pessoa, quebrando um regra de mais de cinco anos da página:

Com o mês de setembro geralmente vem o fim da estiagem para os paulistas. Após um longo período sem chuvas consistentes, é sempre bom ir dormir ouvindo a água cair sobre o telhado e escorrer pelas calhas. Para quem sofre com alergias respiratórias é um alívio. Porém este ano torci para a chuva esperar um pouco mais. Não deu certo e, justamente na véspera do tão esperado evento, choveu de forma intermitente.

Minha cabeça no travesseiro não conseguia fugir da combinação "dirigir o MP na chuva - Bandeirantes - Marginal Pinheiros - Interlagos". Quando comuniquei isso em casa, na hora do jantar, os semblantes de apreensão dominaram a cena de forma inexorável. Tive que afiançar que não estava indo para Interlagos para correr, mas apenas para acompanhar uma corrida. Além do mais, deixaria a capota fechada e levaria comigo um livreto de bolso, que ganhei certa vez de um gideão.

Estava preparado para percorrer os 120 quilômetros que separam Paulínia de São Paulo e retornar, caso as chuvas piorassem. Mesmo assim preciso confessar que praticamente não repousei naquela noite. Mal o dia estava amanhecendo e meu grande amigo Rogério Novaes telefonou, talvez fazendo uma deixa para desistirmos da idéia e ficar em casa - a esposa dele também estava preocupada. Banquei uma resposta confiante e a partir dali não tinha mais volta.

Foi uma decisão correta. O MP se comportou muito bem na estrada e o clima bom foi chegando junto com a expectativa de um grande dia. As preocupações com a rotina de trabalho logo se dissiparam quando tocamos num de nossos assuntos prediletos: Rock e Blues. O Rogério sempre que pode toca sua gaita. Quando a conversa chegou na musa inspiradora que o Eric Clapton tomou de seu chapa George Harrison, estávamos tomando o café da manhã nas redondezas do Rodoanel.

Liguei para o Romeu e combinamos de nos encontrar no acesso de um hipermercado, nas imediações da Ponte do Morumbi. O MP Lafer dele também é vermelho, porém os carburadores de seu motor são derivados do Opala e dispensam filtros de ar, que são extremamente necessários no meu caso, que adotei um par de carburadores do SP-2. No mais, o MP do Romeu é simplesmente impecável, por isso dei o apelido de "Laferrari" para o carro. Já o meu... bem, gosto muito dele.

Cruzar a reta de chegada de Interlagos, pela passagem subterrânea do Portão 7 - pela primeira vez - é algo que certamente posso comparar com a primeira vez que ouvi o álbum Pet Sounds, dos Beach Boys. "God only knows" o que se passa pela mente de alguém que realiza um de seus sonhos de infância. Você olha para cima e vê todas aquelas vigas de concreto armado, sabendo que por ali Fittipaldi, Piquet e Senna aceleraram Lotus, Brabham e McLaren, só para ficar nos campeões mundiais.

Estacionamos os carros numa via que desemboca diretamente nos boxes - uma regalia para os entusiastas da Super Classic que também possuem autos antigos. Fomos recebidos pelo Claudio Ceregatti, que fez as honras da casa. Do terraço do "HC" ele nos apresentou o circuito, descrevendo o traçado antigo e o comparando com Spa-Francorchamps na Bélgica e Nürburgring na Alemanha, que também possuem curvas seletivas e variações topográficas.

Não há como discordar. Se tem algo que segura Interlagos no circo da Fórmula 1 é o seu traçado. Infelizmente as instalações do complexo não estão a altura do que se espera de um circuito moderno. Dá a impressão que foram construindo os equipamentos conforme as necessidades crescentes e imposições da atividade. O resultado é muito pré-moldado e pouca beleza plástica - apesar que não estava lá para apreciar a arquitetura do lugar.

Os carros de corrida sim, estes são belíssimos! Caminhando pelos boxes observamos modelos de outras categorias que também estavam correndo naquele dia. Vendo eles de perto você compreende que o automobilismo não se apóia somente em tecnologia e materiais sofisticados. Existe uma boa dose de trabalho artesanal para deixar um bólido em condições de ir para a pista. Nas fotos eles são reluzentes, mas é pessoalmente que se percebe as marcas de disputas anteriores.

Fotos. Foi a única decepção do dia. Saquei minha Olympus OM 10 clássica para começar o registro e notei que a máquina havia emperrado, depois de mais de vinte anos de bons serviços na família. Possivelmente foi um descuido na instalação do filme. Acontece. O lado bom disso é que você vai se apresentar ao fotógrafo profissional da ocasião, e descobre que além de competente ele é muito atencioso. Seu nome é Rodrigo Ruiz e são dele as imagens que ilustram este depoimento.

Era pouco mais de meio-dia e a corrida iria começar. A ausência mais sentida para nós foi a do MP Lafer amarelo do Zé Maria, descrito pelo Romeu como muito bem acabado. No treino de manhã ainda chovia e isso deve ter afastado alguns competidores. Mesmo assim 28 senhores ligaram seus motores, um recorde para a categoria até então. Acompanhamos a tomada para a volta de apresentação pelo guard-rail e na seqüência nos dirigimos ao terraço do Paddock, com vista para o "S" do Senna.


Foi outra decisão acertada, pois aquele trecho da pista foi um dos protagonistas da prova. Após a largada foi impressionante ouvir o ronco dos motores num volume crescente até se deparar com tantas cores e formas disputando cada metro quadrado, sem se tocar. Logo nas primeiras voltas você começa a perceber estilos diferentes de pilotagem. Tem aqueles que vem tangenciando a primeira perna do "S" e outros que preferem vir por fora, retardando a freada.

Na segunda perna do "S", porém, é que você avalia quem tem braços para segurar um volante e trabalhar no câmbio ao mesmo tempo. A maioria dos pilotos estica a marcha em questão até a saída do "S", deixando para fazer a troca no respiro da Curva do Sol, antes da Reta Oposta. Raros foram os que optaram por ter melhor tração nas rodas motrizes, adiantando a troca e despejando rotações mais altas no motor - não obstante, foram os que conseguiram os melhores resultados.

As disputas se encaminhavam muito bem, com vários pilotos emparelhados, brigando por posições nas três divisões da categoria. Mas numa corrida, infelizmente, há sempre o risco de um acidente. E um dia festivo pode, em frações de segundos, se tornar uma lembrança trágica. Quando essas possibilidades não se confirmam, damos à elas o nome de "sustos". Mas só isso não resume o que ocorreu com o piloto Flavio Gomes e seu DKW de número 96.


O mecanismo de "roda livre" era alardeado nas campanhas publicitárias da Vemag na década de 1960 - segundo a empresa, se tratava de uma medida econômica para o motorista - mas nunca imaginei que presenciaria isto na prática, no sentido literal da expressão. Foi o que aconteceu. Adivinhem onde: no "S" do Senna, justamente na junção das duas pernas, quando há uma inversão brusca no centro de gravidade do veículo.

A ponta esquerda do eixo traseiro não suportou o momento crítico - quando a tensão é máxima - e rompeu, liberando a roda e suas lonas de freio do corpo do veículo, que perdeu sua estabilidade a ponto de ficar parcialmente suspenso no ar, girando 360º. Por sorte não havia ninguém logo atrás, para colher o carro consideravelmente desgovernado. Após rodopiar, o DKW desceu feito um pombo sem asas em direção ao muro de contenção. Temi pelo pior, diante da iminência de um grave acidente.

Um piloto que se julgasse vulgo passageiro na ocasião, poderia levar os braços sobre o peito e esperar o desfecho da história, mas não foi isso que se verificou neste caso: o piloto manteve as mãos no volante - na posição "10 para as 2" - e conseguiu estacionar garbosamente as três rodas remanescentes, sem maiores danos ao carro. Saiu dali com certa pressa e se dirigiu ao terraço - justamente onde estávamos como espectadores - demonstrando aparente indiferença.

Mesmo assim resolvi perguntar: "Você está legal?" Imediatamente notei que era não a pergunta mais apropriada. A resposta veio barata: "Normal!" Em vez de ficar quieto, ainda comparei sua manobra com a que Nigel Mansell fez, ao também perder um pneu no Grande Prêmio da Austrália de 1986, decidindo um campeonato de Fórmula 1. O sorriso amarelo do Flavio me vez pensar que seria mais digno compará-lo a algum herói da lendária Equipe Vemag. Desculpem - é que estes pilotos não eram do meu tempo.


Nas últimas voltas os dois lideres da corrida, que se alternavam na ponta de modo constante, se envolveram num incidente, demonstrando que ninguém estava ali por simples diversão. O espírito de competição falou mais alto quando César Carloni, a bordo de sua réplica de Porsche Spider, procurou a todo custo se manter à frente da BMW 2002 de Evaldo Luque, na entrada do "S" do Senna. Dirigindo no limite, ambos quase abandonaram a prova após o toque.

Nessa hora cada um tem a sua versão. Para mim, Carloni retardou a freada ao máximo, atrasando o tangenciamento da curva, o que o fez perder a traseira do carro. Luque, por sua vez, estava forçando a passagem por dentro. Ao ver a Porsche na diagonal, ele poderia tentar desviar a trajetória, mas nesse caso fatalmente rodaria. Foi o que ocorreu com Carloni, que mesmo indo parar na grama, retornou na dianteira. Luque ainda perdeu tempo ao escorregar na zebra da segunda perna do "S".

Devido à grande vantagem que impuseram aos demais competidores, ambos ainda receberam a bandeirada na frente, mas a perca da carenagem do motor de seu Porsche custou a desclassificação para Carloni, razão pela qual sua equipe foi tomar satisfações com o pessoal da BMW de Luque. Respirando bom senso, logo eles se lembraram que eram desportistas e os ânimos se acalmaram. Definitivamente Interlagos não é um palco para luta livre, como ocorre nos ginásios canadenses de hóquei no gelo.

Finda a corrida voltamos ao "HC". Era aniversário de Roberto Brandão, um dos organizadores da festa, que os entusiastas de lá chamam de "farnel" ou "convescote" - termos provavelmente oriundos da leitura de antigas Seleções do Readers Digest, repletas de anúncios de boa parte dos modelos que acabavam de correr ali. O fato é que eu mesmo não teria definição melhor. Ainda mais quando você se depara com o ex-piloto Sidney Cardoso, um dos ícones nacionais do automobilismo nos anos 60 e 70.

A cereja do bolo - perdoem o jargão mais do que batido - foi a participação especial de Zé Rodrix, vértice do célebre trio Sá, Rodrix e Guarabira, fazendo uma senhora canja para os presentes. Quando ele começou a cantar "quero uma casa no campo..." brinquei com o Rogério que já era hora de "pegar o caminho da roça" - haja lugar comum! Tínhamos que voltar para Paulínia antes que os seguranças se descuidassem e me deixassem invadir a pista com meu "possante".

Respeitar o limite de velocidade na Rodovia Bandeirantes foi um pouco mais difícil desta vez, embora o tenha feito com boa dose de autocontrole - afinal de contas não estava sozinho no conversível. Com o sol escaldante à tarde, baixamos a capota e seguimos curtindo cada ultrapassagem que a gente levava. Por mais veloz que um MP possa ser, os outros sempre acham que se trata de um carro lento. Para eles eu mandava o seguinte pensamento: "Meu, pode passar... hoje estive em Interlagos cara!"

O MP LAFER AMARELO EM AÇÃO!

Fotos da 8º etapa, do fotógrafo Rodrigo Ruiz - publicadas originalmente no site www.rodrigoruiz.com.br e cedidas gentilmente.





Para saber mais a respeito da categoria Super Classic, com o calendário e os resultados de cada etapa, visite o site oficial: classiccup.com.br

O jornalista Flávio Gomes - responsável pelo site
www.grandepremio.com.br - reserva vários tópicos a respeito da Super Classic, em seu blog: flaviogomes.warmup.com.br

4 comentários:

  1. MP Lafer sem faróis e sem para-choques!?! Ficou estranho...mas como carro de corrida torcerei muito por ele!!!
    Abraços....

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  2. MP Lafer já é lindo por natureza. Preparado pra competição, nem se fala...
    Parabéns pelo Blog!
    Abç

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  3. Parabéns pelo blog! Fiquei sabendo dele pelo "blig do gomes" muito bem diagramado e bem escrito. Esse carrinho faz parte de muitas recordações da minha adolescência. Era um sonho de consumo num Brasil proibido de importar. MAs, confesso, nunca imaginei-o preparado e nervoso para uma corrida.

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  4. Meu Grande e velho amigo Jean!

    Realmente você descreveu na íntegra toda nossa emoção de conhecer interlagos. Sempre admirei sua escrita, e desta vez não foi diferente; Foi digna de um homem de letras e apaixonado pelo automobilismo brasileiro.
    Obrigado por ter me dado a oportunidade de testemunhar com você tanta adrenalina e emoção.

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